EVENTO CIENTÍFICO: RESTAM POUCAS VAGAS, RESERVE JÁ A SUA!

 

Vitor de Athayde Couto

 

Guirindó pretende escrever uma carta endereçada aos pesquisadores ingleses com o seguinte pedido: refazer a pesquisa da torrada, comparando uma série de eventos com novos “materiais e métodos” haha. A ideia é criar três lotes de torradas e fazer uma investigação comparativa, com a participação de uma dupla sertaneja. No primeiro lote, margarina. No segundo, manteiga. No terceiro e último, geleia. Depois, ainda podem subdividir as geleias conforme as cores black, blue, red, golden…, além de cran, rasp, straw… berries colhidas na charneca de Heathcliff. Assim, fica garantido o primeiro prêmio IgNobel, com direito a publicação dos resultados, na forma de “artigo científico” haha.

 

– Qual é a graça? Onde está a inovação? – perguntou Magarefe. – Cá no Brasil nós temos blue, black, red e Golden… berries. que são o açaí, a guabiraba, a pitanga e o muriciberry haha.

 

– Nenhuma inovação – disse Guirindó, e continuou:

 

– Você ainda não viu nada. Na pós, há quem sugira a criação de um lote de torradas puras (sem recheio), dando a elas o nome de placebo. Isso sim é que é pesquisa científica! Pesquisa sem placebo não é pesquisa haha.

 

– Como assim?

 

– Faz mais de século, as academias ainda acreditam no grupo placebo. São unidades tratadas como “homogêneas”, como se todo mundo fosse igual. Forma-se aleatoriamente um conjunto que vai ser comparado com outro ou mais outros conjuntos igualmente “homogêneos”. Quando se trata de vacinas ou medicamentos para humanos, é mais grave ainda. Os resultados não levam em consideração se os indivíduos do grupo placebo são de etnias diferentes, se têm hábitos alimentares diferentes, se exercem atividades diferentes (físicas e de trabalho) etc. Por comodidade do “pesquisador”, os grupos são formados por estudantes. Fico imaginando os testes feitos na segunda-feira, quando é muito baixo o teor de sangue no álcool desses acadê-micos ressaqueados.

 

– Eita! Onde você viu isso? No iutúbi?

 

– Não, foi na internet. Iaí? Topa escrever o artigo? Depois a gente manda um resumo de duzentas palavras para uma dessas empresas de eventos científicos que selecionam os trabalhos científicos, com a ajuda de estagiários científicos terceirizados que integram os comitês científicos. Tudo científico. Então, ói nóis: Guirindó e Magarefe! Aliás, tá na hora de mudar esse seu nome. Magarefe, que nome horroroso. Ou então fazer uma requalificação haha. Você não acha melhor Gareff, com dois efes? Então, fica combinado. Autores do artigo científico: Guirind & Gareff. Vai ser um artigo tamanho GG. Botamos também o Galalau. GGG soa muito bem – Guirind, Gareff e Galalau. Finalmente, completamos com mais cinco coautores recrutados entre os acadê-micos da pós. Mas têm que ser bolsistas, se possível, com aqueles nomes cheios de y, k e umas letras dobradas. Por exemplo, Karpiyhamm, Maikkon, Gennyffer, Jucielly e Erdoganiston. Não vai ser difícil encontrar universitários com esses nomes estrambóticos. Total: oito autores! Oito autores com nomes consoantizados, já pensou? Oito! Esse é o número máximo de autores do mesmo artigo científico tolerado pelo comitê científico dos estagiários científicos terceirizados e sub-contratados pela empresa de eventos científicos Celebration. Empresa muito séria, por sinal. No final, todos saem ganhando. Quanto maior o número de inscrições pagas, maior o lucro da empresa de eventos científicos. Quanto maior o número de coautores, inclusive os laranjas, maior a pontuação no Lattes, em favor do grupo de pesquisa, sempre científica, e dos seus demais integrantes. Ganham os traders do turismo, os fotógrafos, os alugadores de becas e capelos, mesas, cadeiras, toalhas, flores, guarnições, os seguranças, os buffets de salgadinhos…

 

Galalau pede a palavra e conclui:

 

– Prefiro Lallau, com dois eles. Foi sugestão da professora de matemática que é pós-graduada em numerologia… científica.

 

COMENTÁRIOS:

 

De um leitor e uma leitora: “cabeça-de-cuia é bullying com cearense”. De jeito nenhum. Antes fosse, pois se trata de uma lenda teresinense, tão horrível que as “autoridades culturais” (sic) estão cuidando de modificar o seu conteúdo. E quem disse que adianta? É o mesmo caso de “atirei o pau no gato”. Tentaram, mas não conseguiram aliviar. É pau no gato e corredor na cabeça da mãe!

 

Outro leitor queixou-se da qualidade das músicas que ele é obrigado a ouvir. Queixou-se também do projeto de criação do ser humano. Segundo ele, nossos ouvidos deviam ter pálpebras. Agora, pergunto: como que a Natureza ia adivinhar que o homem ia evoluir tanto, até o paredão?

 

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Escute o texto com a narração do próprio autor: