Segundo informações do jornal O Globo, o operador Lúcio Funaro teria confirmado em delação premiada que recebeu dinheiro do empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS, para ficar em silêncio.
Se confirmado, o depoimento confirma ao menos parte da narrativa de Joesley de que o presidente Michel Temer teria dado aval para a compra do silêncio de Funaro e do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha.
Na gravação que Joesley entregou à Procuradoria Geral da República como parte de sua delação premiada, o empresário fala a Temer, supostamente de maneira cifrada, que vinha fazendo pagamentos regulares a Funaro e a Cunha.
“Eu estou de bem com o Eduardo”, diz Joesley. “Tem que manter isso, viu”, responde Temer. A fala não deixa claro se Joesley realmente pagava a Cunha para mantê-lo calado sobre algum crime, como se divulgou inicialmente.
Em depoimentos da delação premiada, Batista e o executivo Ricardo Saud, também da JBS, disseram que os pagamentos eram para comprar o silêncio de Funaro e Cunha como forma de proteger o presidente.
Duas versões
Ainda segundo o jornal, Funaro já teria admitido em conversas iniciais com a Polícia Federal que recebia pagamentos do empresário como parte da quitação de uma dívida. No entanto, ele mudou a versão após o acordo de delação premiada: agora teria dito que os repasses seriam uma forma de mantê-lo em silêncio.
De acordo com o operador, o ex-ministro Geddel Vieira de Lima teria entrado em contato com a mulher de Funaro questionando se ele estava disposto a fazer uma delação premiada. Em 3 de julho, Geddel foi preso preventivamente acusado de obstrução da Justiça.
Segundo delatores, ele seria um dos interlocutores de Temer junto a Joesley Batista e, no início deste ano, foi substituído pelo ex-deputado Rodrigo Rocha Loures na função.
Posteriormente, o ex-deputado (que é apontado como um dos homens fortes do presidente) foi flagrado carregando uma mala de 500 mil reais após um encontro com Saud. Os executivos do grupo J&F afirmam que esse valor era a primeira parcela de um total 20 com o mesmo valor em propina por um auxílio junto ao Cade.
O que isso significa para Temer
Acusado de corrupção passiva pela Procuradoria-Geral da República, Temer conseguiu barrar na Câmara dos Deputados o avanço da primeira denúncia contra ele. No entanto, Congresso e Planalto seguem na expectativa de que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresente uma nova denúncia contra o presidente nos próximos dias.
Ontem, o ministro Edson Fachin, relator do caso no Supremo Tribunal Federal, devolveu para a PGR o acordo de delação premiada entre Funaro e pediu ajustes. É de se esperar que o trecho do depoimento revelado hoje sirva para fortalecer as acusações de Janot contra o presidente. O acordo corre em sigilo.
Fonte: Exame