NO CÉU NÃO TEM DENTISTAS

Vitor de Athayde Couto

– O que os anjinhos reivindicam, Senhor?

– Algodões doces com as cores do arco-íris.

– Espero que não tenha vermelho, Senhor. Meu algodão doce nunca será vermelho.

– Oxe! Observa o Céu, verás que a cor vermelha é a primeira das sete cores do arco-íris.

– Senhor, Senhor, permiti-me aproveitar o ensejo para fazer uma pergunta que nunca quis calar aqui na Terra.

– Permito, meu filho. Faz a tua pergunta.

– Senhor, perdão, Senhor, mas…

– Sim, meu filho?

– Senhor, Senhor, qual é o sexo dos anjos?

– Todos, meu filho. Aqui no Céu não existe preconceito, nem ódio. Talvez, em algumas igrejas… mas aqui não temos nenhuma religião e, por óbvio, é impossível ser ateu na Minha divina presença.

– E quanto aos algodões doces, Senhor, eles são de açúcar?

– Sim, de açúcar refinado!

– Mas, açúcar refinado não é um dos pós brancos do Apocalipse? Não dá cárie, Senhor?

– Não – disse o Senhor, com o pouco de paciência que ainda lhe restava diante de tanta falta de conhecimento das coisas do Céu.

– Não? Como não, Senhor?

– Repara, os nossos anjinhos nunca têm cáries. Todas as manhãs eles fazem bochecha com néctar de chuva celestial. É por essa razão que aqui no Céu não tem dentista, nem médicos, nem planos de saúde, carnês de funerária, de pirâmide, baú da felicidade, nem bet, nem pet e nem garrafas pet. Aqui, nada é reciclável, graças a Mim. Tudo é eterno.

– Perdão, Senhor, mas… por que na Terra não tem néctar de chuva?

(Continua sexta-feira com: O SR. JÁ TEM CADASTRO?)

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