O COMUNISMO, O SOCIALISMO E AS SALSICHAS

 

Vitor de Athayde Couto

Para minha surpresa, “A volta aos livros”, publicada em 04/10/2024, foi objeto de vários comentários de leitores. Todos eles manifestaram a mesma emoção ao relembrar leituras de infância e adolescência, particularmente da coleção “Tesouro da Juventude” e das obras de Monteiro Lobato.

Na geração baby boomers, do pós-guerra, começava a se formar uma consciência crítica, consolidando uma cultura nacional baseada na nossa história de lutas e no nosso folclore. Uma das principais referências girava em torno da figura de um herói brasileiro – o Saci Pererê! Negro e indígena, usando um tradicional gorrinho vermelho português, o Saci era até simpático, mas trazia consigo duas armas poderosíssimas – o redemoinho e o fumo. Mais tarde, o Saci foi revalorizado pelo genial e saudoso Ziraldo. Infelizmente, quando da morte do notável desenhista, a imprensa associou o seu nome quase exclusivamente ao menino maluquinho, embora a sua contribuição mais importante tenha sido a turma do Pererê. Importância política, de apoio ao nacional-desenvolvimentismo varguista, juscelinista…

Lobato, Ziraldo e outros brasileiros tão geniais quanto eles, representavam um grande perigo para os planos americanos de dominar o mundo.

Enquanto Lobato nos ensinava que o Brasil tinha, sim, muito petróleo, Pererê e Tininim defendiam nossas matas. Logo, seria preciso combatê-los.

Não tardou e a espionagem americana deu início ao que mais sabe fazer para submeter países aos interesses do “tio” Sam: um amplo trabalho sujo de cancelamento dos principais defensores da nossa cultura e riqueza. Se necessário, levando-os à prisão – conforme aconteceu com toda a equipe do jornal O Pasquim, sempre em nome da “democracia” e da “liberdade”. Naquela corajosa equipe encontravam-se os intelectuais-cartunistas Ziraldo e Jaguar, Millôr Fernandes e Henrique Filho – o Henfil.

Pra variar, todos foram acusados de comunistas. Não satisfeita, a espionagem do império americano espalhou “evidências científicas” de que Lobato era mais racista do que Indiana Jones.

Felizes e alienadas, as gerações seguintes desconhecem a importância, para o nosso desenvolvimento socioeconômico e cultural, dos sacis e cucas, tininins, galileus, graúnas e pica-paus amarelos.

Felizes e alienadas, desconhecem tias, avós, colheres de sopa e os quitutes das tias nastácias e donas bentas.

Felizes e alienadas, enlouquecem ao escolher um entre mil tipos de cerveja.

Felizes e alienadas, empanturram-se de pizzas, búrgueres, fritas, quetichupes e ozempiques.

Felizes e alienadas, experimentam o pior de todos os medos, o medo do desconhecido: o comunismo, o socialismo e as salsichas.

Por falta de bois da cara preta, dormem embaladas pelo álcool tranquilizante e sonham com filhos travestidos de homens-aranhas e mulheres-maravilhas.

Mas, cuidado pra não levar fumo do Saci. E redemoinhos podem virar ciclones.

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