O FIM DO MUNDO

 

Vitor de Athayde Couto

O gato sonha com ratos. O cidadão sonha com a “universidade”. Chegando lá, encontra apenas uma faculdade, que insiste em rimar com felicidade. Acontece que “a faculdade é particular”. A felicidade também. Conformado, como todo pacato cidadão, entrega o dedo pra não perder a mão. Despertando do sonho, todo ensanguentado, e já sem medo, sem dedo e nenhuma dor, grita:

– Droga! O “diretor careca” cortou justamente o dedo que eu escolhi pra usar o anel de doutor!

Agora, sem dedo e sem anel, só lhe restam duas opções: ser presidente da república ou aderir às academias bovinas da “província deserta”. Lá, onde o gado se anelora e a cultura branqueia.

Lembrar é não esquecer, como nas palavras do indígena Ailton Krenak,

“A memória é a consciência crítica. A ausência dessa memória deixa você refém de qualquer discurso manipulador. Ao invés de você ouvir uma mensagem e analisar ela criticamente, você adere à mensagem automaticamente, no sentido afetivo, emocional e tal. Você põe uma música de fundo, bem boba e umas imagens, bem assim, carente. E aí você leva uma enxurrada de otário atrás. É assim que fazem a manipulação. É terrível. Enxergar isso dói. Te faz ficar muito crítico e encurta muito a paciência.”

Txai Suruí definiu Krenak, primeiro indígena a ingressar na Academia Brasileira de Letras, como “poeta da floresta e eterno sonhador que vem reflorestando mentes e corações ao nos apresentar ideias para adiar o fim do mundo.”

Lutando contra o capinzal e a sojeira transgênica, a crítica krenakiana é tiro certeiro de flecha no coração da ideologia que salamaleca bandeirantes, bandidos e bandeirosos senhores de escravos – heráldicos heróis.

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