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Agora morreu mesmo. Não, ninguém tem mais um pingo de dúvidas de que Fidel Castro finalmente bateu as botas e vai virar cinzas. Precisou mais de sessenta anos pra que o maior ditador de todas as Américas saísse de cena pra gente ver a quantas anda a política e a geografia da linha do Equador pra baixo. E sobre a morte do cubano que foi um símbolo da resistência e insistência do comunismo por estas bandas me lembro de um livro escrito por mim há dezesseis anos e prefaciado pelo meu grande amigo Daniel C. B. Ciarlini, intitulado O Libertador de Cuba.

Este livro, que nunca chegou a ser publicado por falta de dinheiro, trata das aventuras de quatro amigos, estudantes dos tempos do Colégio Estadual Lima Rebelo, ali na avenida Coronel Lucas, que dados a entender de política, meteram na cabeça de criar um movimento pra libertar Cuba das garras de Fidel Castro saindo justamente da Parnaíba. Justamente arregimentando no meio dos estudantes, sindicatos, raparigas, igrejas evangélicas, donos de quitandas e de lojas de vender sofá e geladeiras, tipo assim, Armazém Paraíba e Macavi, recursos pra chegar até as portas de Havana.

Eu não preciso dizer que bem que sempre desejei que o livro fosse publicado antes de Fidel morrer. Desde que escrevi este livro sempre foi este o meu medo. Porque de uns tempos pra cá eu já via todo dia o velho ditador engraxando as botas pra descer nas cordas no rumo da Tabajara. Alguns amigos meus chegaram a ler o livro na chamada “boneca”, que é como se chama a prova definitiva de um livro. Mas Fidel se cansou de esperar e acabou saindo definitivamente de cena agora neste finalzinho de novembro.

Numa edição da revista Histórica, pra mim um dos maiores momentos do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Parnaíba desde sua fundação, uma matéria sobre esse livro, O Libertador de Cuba, acabou causando quase um incidente diplomático com o pessoal do antigo jornal Inovação. Só porque acharam que eu havia colocado a culpa neles pela depredação da praça da Graça. O certo é que o tal livro trata de forma bem humorada da tentativa de quatro rapazes em alcançarem um dia a capital Havana e livrarem Cuba da ditadura do comunismo.

Se eu morasse noutro lugar de gente que tem afinidade com a cultura, certamente este livro já estaria publicado há muito tempo e agora iria fazer o maior sucesso entre os americanos, cubanos, venezuelanos, corintianos, enfim, tudo que é povo que termina em anos. Mas vou dar uma pista pra quem não leu a “boneca” e pior ainda, corre o risco de nunca ter a chance de ver publicado este livro. Os quatro estudantes do Colégio Estadual Lima Rebelo, cujas reuniões era ali no Campo da Burra, na avenida Coronel Lucas, na verdade queriam era libertar a Parnaíba do tempo do atraso!

Os tempos são outros ou vão ser outros? Vamos esperar pra ver no que vai dar a partir de janeiro. Até agora estamos vivendo naquela base de, um olho aberto e outro fechado, feito costureira velha enfiando a linha no buraco da agulha. E lembrando uma passagem do livro O Libertador de Cuba, numa conversa entre dois personagens, Domingos Bermudez Garcia e Franzé, numa mesa lá na antiga Munguba, do Augusto, “nós estamos vivendo um momento em que a corda está segura apenas por alguns fiapos”.