Vivemos um momento impar em nosso país. E não vou aqui, como acho que a maioria vai pensar, tecer comentários sobre a tão falada economia, com sua queda na produção e vendas, diminuição do poder de compra e salários. Vou falar sobre a segurança, ou insegurança, pública. Infelizmente não é de hoje que acompanhamos a inércia de nossos gestores, tanto no âmbito municipal, estadual e federal, em conduzir esse importante pilar de uma sociedade. Vários fatores, somados, contribuem para uma total paralisia de ações que efetivamente venham fazer efeito na manutenção da ordem pública. Vamos desde o colapso financeiro do estado, que não consegue aparelhar adequadamente as polícias, chegando ao cúmulo de faltar combustível para viaturas, passando pela valorização dos policiais, que recebem salários baixos, não que isso justifique qualquer ação fora da lei, e chegando na grande mazela que assola todo o país, que é a corrupção, presente também nas instituições responsáveis pela segurança. Isso para não citar a ineficiência e conivência do poder judiciário, que tornam a justiça lenta e ineficaz.
Dessa forma, o que temos são foras da lei que simplesmente a violam e, na certeza da impunidade ou da lentidão dela, desafiam as polícias, os promotores, os juízes, sem nenhum constrangimento, transformando o país em uma terra sem lei. Não são poucos os absurdos. Apenas para citar dois recentes, tivemos vereadores que saíram da cadeia para tomar posse e um preso por tráfico de drogas e tentativa de assassinato que foi liberado para fazer provas de um concurso da policia. E ainda nesse sentido não podemos deixar de citar as empresas que vivem da insegurança pública: transportadoras de valores, fabricantes de câmeras e sistemas de seguranças, segurança privada. Muitas delas tendo como proprietários, políticos que deveriam discutir exatamente como acabar com isso. Será que eles tem interesse?
Assim, chegamos à conclusão que vivemos uma loteria invertida, onde todos os dias, torcemos para não sermos “sorteados” com o roubo de nossa casa, do nosso carro, do nosso celular. E citei anteriormente apenas perdas materiais que apesar de dizermos que não é o principal, e realmente não é, mas é fruto do suor e carrega sempre um sentimento de realização. Porém, ainda tem o pior premio dessa loteria macabra: a perda da vida. Com relação ao que morre, não podemos dizer muito, mas os que ficam são condenados a viver com uma dor que nunca passa e que na maioria das vezes nem sequer é amenizada com a punição dos responsáveis, pois o índice de solução de homicídios no Brasil beira os inacreditáveis e inaceitáveis 10%.
Fica então alguns questionamentos: Até quando vamos continuar levantando nossos muros, colocando cerca elétrica, até quando vamos ser orientados a não sair às ruas com celulares, cordões, relógios, até quando não dormiremos direito com nossos familiares na rua, até quando vamos desgastar nosso coração com tanta aflição, se em uma loteria o sorteado sempre é pego de surpresa?
Autor: Geraldo Júnior, Técnico em telecomunicações pela Escola Técnica Federal do Ceará, hoje IFCE e Bacharel em Turismo pela UFPI. Representante da ACP Parnaíba na cadeira do Conselho Municipal de Turismo.