O que seriam os sonhos? Para alguns, apenas bobagens de meros distraídos, para outros, utopias que não levam a lugar algum… Eu não concordaria com estas afirmações!
– Saibam: A vida é engraçada! A todo instante nos vemos tendo que fazer escolhas, trilhar caminhos… E o curioso é que não existem placas nos orientando que destino tomar… Somos levados a escolher, às vezes com pressa… Outras não… Daí tomando um caminho, seguimos, meio que de olhos vendados, esperando que aquela direção, seja a certa… Porém algumas vezes os caminhos nos levam à precipícios, que apenas bem perto de cair, é que notamos … E assim o tempo vai passando… Vamos envelhecendo, escolhendo outros caminhos, e dessa forma escrevendo nossa historias…
– E que seriam então esses sonhos?
O sonho é o combustível que necessitamos para percorrer essas estradas, é o motivo que nos leva a querer lutar, respirar, viver…
Havia deixado Parnaíba por algum tempo, e ao regressar era como se voltasse ao ponto de partida. Longe da escrita, haviam se passado três anos desde o lançamento de meu livro de poesias, “Linhas Impensadas”, em Sobral – Ceará. Parecia que toda a dedicação e o esforço de anos renderiam apenas um diploma universitário pra pregar na parede e alguns livros pra dar de presente para os mais íntimos. Casado e com pouco dinheiro para manter uma família, me vi em 2006 sem minha avó, que faleceu, perdendo assim a mãe que me criou. No mês do aniversário de sua morte, recebi a visita de um primo, Daniel Castelo Branco Ciarlini, que desde a infância tivemos um bom relacionamento.
Filho de um irmão de meu pai, e seis anos mais novo, cheguei a vê-lo ainda bebê, porém com o tempo a pequenina figura, foi se transformando num jovem talentoso, e para minha surpresa, também poeta, que possui múltiplos dons, musico talentoso, cronista sensível, poeta com tom crítico, e tendo sempre a noção do que é a palavra humildade, embora isso tenha lhe custado bastante no decorrer da vida, porém as mesmas dores o fizeram direcionar para o papel toda a sua genialidade.
É preciso contar um fato interessante sobre o Daniel, que acredito: poucos sabem! Quando concluiu o ensino médio, Daniel cursou durante alguns meses enfermagem no estado do Maranhão, porém abandonou o curso, o que causou estranheza por parte de quem o conhecia, e até julgamentos erroneamente precipitados… O que eles não perceberam na ocasião, foi que na verdade, Daniel acabou constatando, que não eram as feridas físicas que ele almejava tratar das pessoas, mas sim as feridas da alma, dos indivíduos mais variados, e confesso: Fui um dos seres que foram tratados por ele. Daniel me reencontrou nesse momento difícil da minha vida, onde eu havia abandonado meu dom de escrever, e convidou- me a participar de seu mundo, um encontro com um primo poeta, que me fez enxergar, que nas minhas veias, ainda corria sangue, e que eu não deveria desistir dos meus sonhos e principalmente, do que um “sensível” sabe melhor fazer: emocionar!
De fato que em 2007, criamos o Piagüí, um veículo Cultural responsável por pesquisar e difundir a historia do nosso estado, como também abrir espaço para os novos talentos. Juntamente com o amigo Fabio Bezerra, que não exagero ao dizer para os senhores e senhoras… É hoje no Piauí, um dos melhores profissionais na área de diagramação e arte que se tem noticia, e acredito que com toda certeza, ainda ouvirão falar muito do talento desse cara! Sem contar que é uma daquelas pessoas que podemos contar sempre que precisamos. No inicio foi bem difícil. Percorremos diversas lojas de Parnaíba e Luís Correia, ouvindo muitos NÃOS, e chegando até a acontecer um fato inusitado em certo grande comércio, que quando fomos falar com o dono do estabelecimento, ele perguntou se estávamos ali para lhe dar dinheiro. Ao dizermos que não e começarmos a expor nossa idéia, nos expulsou, dizendo:
– Se não estão aqui para me dar dinheiro, não me façam perder tempo!
Porém da mesma forma que esbarramos em obstáculos de ignorância, por parte de alguns, encontramos em outros uma excelente receptividade e um apoio ímpar para com nossos sonhos: parceiros que desde os primeiros meses estão com a gente, ajudando a patrocinar a cultura.
E o Piagüí, surgiu com esse propósito, de preencher uma lacuna, num mundo que geralmente cultua apenas o que vê, tentamos mergulhar no interior… Num mundo onde, geralmente, são exibidos apenas corpos, tentamos explorar a alma, mas não na concepção religiosa, e sim a alma no sentido do coração, da sensibilidade… Temos a noção, de que fazendo isso, talvez não mudemos o mundo, ou a forma de se pensar as coisas, nem tão pouco o modo de pensar de um estado, cidade ou bairro, mas pelo menos, talvez, acendendo uma vela no meio da escuridão, para que depois essa chama aumente cada vez mais, e passe a ser acesa por outras pessoas e em outros lugares, tornando assim o estudo e a paixão pela cultura, não só algo reservado a um determinado grupo de intelectuais e pesquisadores, mas sim a todas as pessoas…
Nós lutamos, caímos, sangramos, levantamos e vencemos a cada mês, enfrentando todas as dificuldades que surgem, ultrapassando preconceitos e esnobismos… E para concluir, não poderia deixar de citar um pensamento de William Butler Yets, que traduz com exatidão, a essência do que é o Piagüí:
“Tivesse eu os tecidos adornados do céu, ornamentados com luzes d’ouro e prata… Os tecidos azuis, indistintos e escuros da noite, a luz e os meio-tons… Espalha-los ia a teus pés… Mas eu sendo pobre, tenho apenas meus sonhos, espalhei-os então, a teus pés, pisa com delicadeza, pois caminhas sobre meus sonhos”
Claucio Ciarlini (2008)