PAPOS DE ANJO
Vitor de Athayde Couto
– Então, dizei-me, Senhor, o que é que mais se come no Céu?
– Papos de anjo, meu filho.
– Eita, Senhor! No Céu também tem papa-anjo, Senhor? Vixe…
– Não, meu filho. Eu disse papos de anjo! O Céu é fofo, tão fofo que os anjinhos fofinhos tiram as suas sapatilhas pés-de-anjo e vão brincar, descalços, pulando de nuvem em nuvem. No Céu não se usam tênis de academias, até porque não existem academias celestiais. Morro de medo de eles caírem – pensou Deus, bem baixinho. Mesmo pequeninos, os anjinhos caídos me dão muito trabalho, são uns diabinhos – ops!, o que foi que Eu disse?
– O que disseste, Senhor?
– Nada, não – disse o Senhor, e começou a pensar, desta vez, em silêncio – “Morro de medo? Foi isso que eu disse? Mas, se Deus nunca morre, nem tem medo. Preciso me acostumar a ser oni… oni isso, oni aquilo… assim como as faculdades de Parnasia, as uni isso, uni aquilo… e também os ônibus, onde tem de caber todo mundo do mesmo bairro”…
Voltando ao assunto, o Senhor respondeu:
– Além dos papos de anjo, aqui se comem travesseiros, barrigas de freira (com todo respeito às irmãzinhas), ovos moles e bolinhos de chuva com leve recheio de nuvens flutuantes. Já os anjinhos da creche podem comer algodão doce à vontade, mas só desses bem branquinhos.
– No Céu não tem academias? Por quê, Senhor?
– Meu filho, as academias só servem para provocar conflitos e brigas, cada integrante querendo ser dono do “seu” aparelho.
– Verdade, Senhor. Aqui na Terra, as academias são muito bem aparelhadas, politicamente aparelhadas. Mas, dizei-me, por que os anjinhos só podem comer desses algodões bem branquinhos? Os algodões doces não podem ser coloridos?
(Continua sexta-feira com: ALGODÕES DOCES COLORIDOS)
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