9a5dd82d42de21c428998ebacca8f876Na iminência de acontecer um acidente, quando o condutor do veículo consegue prever, segundos antes, uma possível colisão, o primeiro instinto é acionar os freios ou redirecionar o automóvel. Na pista, o rastro dos pneus friccionados contra o asfalto ou terreno é uma das grandes características de um local onde aconteceu um acidente. Mas a marca, muitas vezes, não fica só no cenário. Diariamente, jovens perdem a vida ou são brutalmente marcados por imprudências feitas no trânsito.

No Mapa da Violência de 2014, os acidentes de trânsito e assassinatos são apontados como as duas principais causas de morte de brasileiros de 15 a 29 anos. O Piauí aparece em destaque na pesquisa, sendo o segundo Estado no ranking com maior número de mortes em decorrência desses dois aspectos.

Para Joaquim Pereira*, ao olhar-se no espelho, todos os dias, a lembrança do acidente que quase tirou sua vida é inevitável. A cicatriz, que envolve grande parte do pescoço, é um lembrete constante do que aconteceu há oito anos. Aos 21 anos, após beber e conduzir uma moto, ele colidiu com um carro em alta velocidade e tem no corpo as cicatrizes do acidente.

Hoje, trabalhando como motorista e considerando-se um ‘sobrevivente’, a consciência ao guiar um veículo é bem maior. “Tenho certeza que se não tivesse bebido, o acidente não teria acontecido. A gente exagera e hoje não faço mais aquilo. É muita imprudência”, relata.

A cicatriz no pescoço, que levou 54 pontos, é decorrente de um corte profundo ocasionado no acidente. Além disso, o jovem, hoje com 29 anos, tem marcas da queimadura de terceiro grau na perna e cicatrizes de corte por todo o corpo. Como estava de capacete, uma lesão ainda mais grave foi evitada. Ele atribui ao uso do equipamento de segurança o fato de ter permanecido com vida.

Foto: Jailson Soares/O Dia
Foto: Jailson Soares/O Dia

Para Joaquim, que tem uma filha ainda criança, a missão é nunca mais deixar que isto aconteça. “Só estou vivo porque estava de capacete. Hoje, ando com minha filha e sempre a lembro dessa importância. Atualmente, é ela mesma quem pergunta ‘papai cadê meu capacete?’ e assim a gente vai educando desde pequena para não acontecer acidentes”, finaliza Joaquim.

Números que preocupam

A gravidade da situação que é presumida ao acompanhar notícias pela imprensa ou na realidade mais próxima, sobre a quantidade de jovens que se envolvem em acidentes, é confirmada através de números. No Hospital de Urgência de Teresina (HUT), o maior pronto- -socorro do Piauí, até setembro de 2015, 9.789 mil pessoas foram atendidas em decorrência de acidentes de trânsito.

Do total, a grande maioria envolve acidentes com motociclistas, sendo 8.219 acidentes de motos, 693 de carros e 877 pedestres. Os números apenas reforçam a imprudência presenciada no trânsito diariamente, que deixam vítimas reais.

Quando os acidentes não envolvem óbitos, em sua grande maioria deixa sequelas. Por isso, no Centro Integrado de Reabilitação (Ceir), o número de jovens em tratamento para a reabilitação física, após envolvimento com acidentes, também é crescente. No local, são realizados mais de sete mil atendimentos, anualmente, por pessoas vitimadas por acidente automobilístico, com motocicleta e por atropelamento. Os números envolvendo motocicletas também se destacam; em sete anos de funcionamento do Centro, 34.208 pessoas foram atendidas após sequelas deixadas por acidente de motocicleta.

*Nome fictício para proteger a identidade da fonte

Fonte: Jornal O Dia