O Campeonato Brasileiro começa neste final de semana com a promessa de meses de compromissos intensos para times e, principalmente, para os médicos. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) estabeleceu uma diretriz detalhada de cuidados com o novo coronavírus e fixou uma rotina diferente da habitual para todos os torneios nacionais. Jogadores, técnicos e árbitros terão testes regulares e vão encarar mudanças até no cerimonial pré-jogo. Execução de hinos e cumprimentos entre os atletas estão vetados.

 

As regras sobre o funcionamento do Brasileirão estão resumidas em cerca de 60 páginas de um material elaborado sob a coordenação do presidente da Comissão de Médicos da CBF, Jorge Pagura. Foram quatro meses de estudo, discussões com mais de 140 médicos e opiniões com epidemiologistas e infectologistas até a entidade fixar como o futebol nacional será restabelecido. “Atingimos o nível máximo de segurança. Não temos como fazer algo melhor”, garantiu Pagura ao Estadão.

 

A principal definição da CBF está na padronização de testes. Todos os exames PCR serão bancados pela entidade e realizados no hospital Albert Einstein, em São Paulo, para se ter amostras mais uniformes. Seja para as quatro divisões do Brasileiro, Copa do Brasil, torneios femininos e competições de base, a promessa é de ter o mesmo rigor. Três dias antes de cada partida os 23 atletas de cada time, os dois técnicos e os quatro árbitros passarão por testes. Ou seja, serão 52 exames por jogo. O material será enviado para análise e em até 24 horas os resultados precisam estar prontos.

 

A ideia é evitar o que ocorreu no Paulistão. O hospital Albert Einstein errou o resultado de 26 testes para covid-19 – sendo 13 de atletas – feitos no Red Bull Bragantino antes do jogo contra o Corinthians, pelas quartas de final. Todos foram liberados para a partida na véspera, após novo exame testar negativo.

 

“Ter um jogador com PCR positivo será como um cartão vermelho. Vai precisar ficar uns dias fora. Por isso a uniformização dos testes é importante porque todo mundo estará sob o mesmo critério”, disse Pagura. Os próprios clubes vão precisar atualizar as informações dos contaminados.

 

Ao longo do campeonato há a expectativa de essa cartilha de cuidados ser revista. A CBF aposta na melhora da situação da pandemia no Brasil. “Todos os dados e conceitos sobre a doença estão em atualização constante”, afirmou o médico.

 

CONTROLE TOTAL NO GRAMADO

 

A CBF não vai permitir a presença de torcida. Partidas da Série A e da Copa do Brasil podem ter até 300 pessoas entre jogadores, comissões técnicas, árbitros, dirigentes, jornalistas e funcionários. Para outras divisões o limite é menor. Nas últimas semanas, a entidade realizou uma vistoria nos estádios para definir separações de diferentes áreas.

 

“O objetivo é restringir o acesso ao estádio somente para quem realmente precisa estar ali. O importante agora é viabilizar a entrega da temporada do futebol”, explicou o diretor de competições da CBF, Manoel Flores. Os estádios serão divididos em três diferentes áreas, basicamente separadas em gramado, corredores de acesso e tribunas. Para frequentá-las, é preciso apresentar credencial e ter a temperatura medida.

 

Para evitar a emissão de gotículas de saliva, a execução dos hinos não será realizada. Só podem trabalhar no máximo quatro maqueiros, com luvas e máscaras. Estão liberados seis gandulas, mas todos devem lavar as mãos com água e cuidar da higiene das bolas, que devem ser limpas com álcool líquido. O gel está descartado porque pode deixar a superfície escorregadia.

 

Fora os testes oficiais do torneio, várias equipes pretendem continuar a fazer exames. Segundo o executivo de futebol do Grêmio, Klauss Câmara, o controle é importante para cuidar das pessoas que não serão contempladas pela CBF. “Às vezes um fisioterapeuta ou massagista nosso pode ser contaminado. Mas aí para o jogo seguinte nós teremos de pensar em outra pessoa como substituta”.

 

A CBF recomenda que as equipes consigam embarques diferenciados com as companheiras aéreas para evitar aglomerações em salas de espera de aeroportos. “Os clubes estão buscando um acordo coletivo para encontrar uma situação favorável para o fretamento de alguns voos”, comentou Câmara. Os atletas são orientados a viajar de máscara e evitar se alimentar dentro dos aviões.

Fonte: Estadão Conteúdo