1Quando o engenheiro de pesca Francisco das Chagas Costa implantou, em 2008, o projeto de criação de peixes em tanque escavado, na Ilha Grande de Santa Izabel, no litoral do Piauí, ele investiu em torno de R$ 80 mil. O empreendimento de um hectare foi ampliado e o valor investido já foi recuperado. Hoje, o projeto conta com tanques de peixes espalhados em cinco hectares. 

Na fazenda Camarço, Francisco das Chagas cria tambaquis, mas pretende diversificar criando tilápias. “O mercado absorve tudo”, afirmou Francisco das Chagas Costa, que produz 100 toneladas ao ano, produção que é destinada basicamente ao mercado da capital, Teresina, e emprega seis pessoas.

O caso de sucesso de Francisco das Chagas Costa faz parte do lastro de empreendimentos de piscicultura bem-sucedidos em Parnaíba, que estão produzindo 800 toneladas de peixes por ano.

O engenheiro de pesca, José Nogueira Filho, consultor de pesca do Serviço de Apoio a Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), afirma que do total da produção do litoral do Piauí, 500 toneladas são de tambaqui e 300 toneladas de tilápia.

“A criação de peixes tem como expandir na região do litoral. A região é propícia para a produção de peixes por causa do clima, da terra, temperatura ambiente de 30 graus e da água de 28 graus. É uma temperatura ideal para a produção de peixes e o solo é argiloso, que retém a água, uma característica importante para a piscicultura”, detalhou José Nogueira Filho.

Consultor do Sebrae diz que Parnaíba tem muitos rios, mas o principal, o rio Parnaíba, garante água mais barata para os empreendimentos, além da água subterrânea ser usada por um número expressivo de projetos para os viveiros.

José Nogueira Filho quer implantar seu próprio projeto de piscicultura. Ele está montando um laboratório de produção de alevinos para comercializar para os criadores de peixes.

Ciclo de peixes garante produção de 10 mil kg por hectares

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O Sebrae de Parnaíba tem em seu cadastro 50 empreendimentos de criação de peixes em tanques escavados e em tanques-redes. O Sebrae atende os municípios de Luís Correia, Parnaíba, Cajueiro da Praia, Caraúbas, Caxingó, Buriti dos Lopes, Piracuruca, Esperantina e Luzilândia.

O engenheiro de pesca e consultor do Sebrae, Delfran da Costa e Silva,  disse que a média de produtividade em Parnaíba é 10 mil quilos por hectare por cada ciclo. Os criadores podem produzir em dois ciclos a cada ano.

“É preciso, por volta de seis meses, para que o peixe atinja o tamanho exigido pelo mercado’, afirmou Delfran da Costa e Silva, lembrando que o consumidor de Teresina exige que o tambaqui tenha 1,2 quilo para ter menos espinhas, e a tilápia deve ficar com uma média de 500 gramas.

O gestor do Projeto de Desenvolvimento Setorial do Agronegócio do Sebrae de Parnaíba, Ricardo Leão de Brito Costa, diz que a instituição reúne no projeto três setores base da economia: a piscicultura, a fruticultura e o leite.

“Nós temos uma bacia hidrográfica muito grande, temos água no subsolo que permite a abertura de poços e todos os dias têm surgido projetos de piscicultores, que criam o tambaqui e a tilápia”, comentou Ricardo Leão.

Consórcio de produção de animais é modelo rentável

O estudante do 10º período de Engenharia de Pesca da Universidade Federal do Piauí (Ufpi), em Parnaíba, Gustavo Oliveira, e os engenheiros de pesca José Roberto e Anísio Neto inventaram uma solução capaz de garantir a sobrevivência, renda e melhoria de vida de pequenos criadores e agricultores, dentro da agricultura familiar. 

A base do projeto, intitulado Quintal Agroecológico, é a criação de peixes, que gera resíduos para fazer a irrigação para o pomar, que vai produzir frutas e, através do pomar, é instalado um banco de proteínas, que serve de ração para os animais. A estrutura ocupa 10% de um hectare, equivalentes a mil metros quadrados, o que garante que um quintal pequeno é suficiente para mudar a vida e a renda dos agricultores familiares.

O investimento inicial em um tanque de peixe, feito de lona, custou R$ 550,00, dos R$ 800 empregados no Quintal Agroecológico.

“Nós começamos sem tecnologia, só com a ideia de que deveria ser econômico, barato para o produtor”, afirma Gustavo Oliveira, lembrando que o primeiro tanque de peixes já deu lucro, foi montado o segundo tanque e hoje já são oito tanques de lona.

Anísio Neto falou que com um ano de cultivo de peixes em tanques, os empreendedores descobriram que a lona não é durável e era preciso um tanque mais durável; foi quando desenvolveram um tanque de concreto, que custa R$ 1,2 mil, relativamente caro, mas, do ponto de vista econômico, vai dar maior rentabilidade porque seu tempo de vida útil é longo.

“A ideia é que o produtor comece criando os peixes em lona, adquira dinheiro com a venda dos peixes e depois passe a criar os peixes em tanques de concreto”, falou Gustavo Oliveira.

Gustavo Oliveira, José Roberto e Anísio Neto criam tilápia com água com PH de 7,5, mas com a respiração dos peixes esse PH diminui e eles utilizam bicarbonato, que é encontrado em conchas de mariscos, facilmente encontradas nas praias de Parnaíba e Luís Correia. 

Os engenheiros de pesca também estão se preparando para a produção de tabletes de fertilizantes para hortas e pomares com os resíduos que saem na água dos tanques de peixes, que são muito fortes e precisam ser diluídos para que sejam usados nas hortaliças e frutas.

A produção de tilápias resulta em um faturamento de R$ 2 mil por mês; cada galinha é vendida a R$ 35,00, e cada um de seus ovos vendido a R$ 0,60. As hortaliças e frutas da propriedade são vendidas na feira de Parnaíba.

Experiências são patenteadas

Os engenheiros de pesca também produzem ciência, em parceria com a Estação de Piscicultura da Universidade Federal do Piauí. Anísio Neto afirma que as experimentações e pesquisas feitas no Quintal Agroecológico já resultaram na descrição de duas patentes, uma com a construção de um tanque de peixes de alvenaria com preço de R$ 800,00; outro sobre filtro biológico e mecânico, de forma simultânea; e mais três patentes em andamento para registro sobre circulação de águas.

“Temos tudo natural onde moramos e podemos transformar isso em renda e conhecimento, porque a vida natural proporciona um aprendizado todos os dias. Estamos produzindo riquezas para nós e para a comunidade”, declarou José Roberto.

Gustavo Oliveira está organizando uma Cooperativa de Engenheiros de Pesca para que os profissionais possam apoiar e orientar a agricultura familiar na região. Ele afirma que muitas pessoas têm potencial para produzir em seu quintal sem necessidade de sair de suas casas para procurar emprego em outras regiões e em outros Estados.

“O nosso objetivo é fazer com que a população do Piauí não tenha que migrar para outras cidades e outros Estados para ter qualidade de vida, trabalho e renda, podendo ter tudo isso em seu próprio quintal. É essa a nossa ideologia”, explica Gustavo Oliveira.

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Fonte: Meio Norte