Dois dias antes da votação que vai definir a permanência ou não do presidente Michel Temer no cargo, a cúpula do PT e o ex-presidente Luiz Inácio Lula se reuniram nesta segunda-feira, 31, para definir detalhes sobre a pré-campanha do petista rumo às eleições de 2018. A definição sobre a estratégia do partido para a votação sobre a denúncia contra Temer na Câmara ficou para amanhã, quando a Executiva e a bancada do PT vão se reunir em Brasília.
Com a presença da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e do próprio Lula, o partido definiu uma agenda extensa que começa sexta-feira, em almoço com religiosos e comerciantes da Zona Sul de São Paulo, tradicional reduto petista, e vai até dezembro, no mínimo, com atos na Grande São Paulo, longas caravanas pelas regiões Nordeste, Sul e pelos estados de São Paulo e Minas Gerais.
Além disso o PT lançou nesta segunda-feira o projeto Brasil em Movimento, composto por ciclos de debates e plataforma digital participativa, que pretende ser o embrião do programa de governo de Lula para 2018.
Lula e a cúpula petista fecharam o trajeto da aguardada viagem de Lula pelo Nordeste. A caravana parte de Feira de Santana (BA) no dia 17 de agosto e vai passar por 28 cidades dos nove estados nordestinos. O ponto final é São Luís (MA), provavelmente no dia 7 de setembro.
Por decisão de Lula, o trajeto será feito todo de ônibus, sem uso de helicóptero ou avião. Segundo participantes da reunião, Lula exigiu apenas não ficar hospedado na casa de correligionários.
“Não quero tirar a cama de nenhuma criança. Durmo até em pensãozinha, mas não quero ficar em casa de companheiros”, disse Lula.
A ideia é escolher eventos e cidades onde tenha alguma realização dos governos petistas e, assim, resgatar para o eleitorado o legado do ex-presidente. A última caravana de Lula pela região foi em 1993, segundo o ex-ministro Gilberto Carvalho. Na ocasião o petista refez o caminho entre Garanhuns (PE) e São Paulo, percorrido pela primeira vez quando tinha cinco anos.
Até o dia 8 de setembro o ex-presidente deve estar de volta em São Paulo. No dia 13, Lula, condenado a nove anos de prisão no caso do tríplex do Guarujá, presta depoimento ao juiz Sérgio Moro, em Curitiba, sobre o sítio usado por ele e sua família em Atibaia.
A cúpula petista prevê outras três caravanas até o final deste ano. A primeira delas pela região Sul e as outras duas por Minas Gerais e São Paulo.
A agenda foi definida em reunião entre Gleisi, Lula, presidentes dos diretórios petistas estaduais e das capitais, além de integrantes da Executiva e deputados, entre eles o líder do PT na Câmara, Carlos Zaratini (PT-SP). Na reunião, dirigentes das regiões Norte e Centro-Oeste também cobraram caravanas com Lula.
“Por isso estamos pensando em estender as caravanas até março do ano que vem”, disse Gleisi.
O coordenador das agendas, Marcio Macedo, um dos vice-presidentes do PT, negou que o objetivo das viagens seja eleitoral. “Ele vai conversar com as pessoas sobre a realidade do país. E levar esperança”, disse o dirigente petista.
‘Brasil em movimento’. O PT também abriu ontem as discussões sobre o programa de governo para 2018. O projeto Brasil em Movimento, coordenado pelo presidente da Fundação Perseu Abramo (FPA), Marcio Pochmann, professor da Unicamp, pretende recolher sugestões em três níveis. O primeiro, dos chamados “sábios”, prevê a participação de acadêmicos, gestores públicos, especialistas e políticos em geral. O segundo nível inclui setores organizados da esquerda que estão fora dos partidos políticos como movimentos por moradia, mobilidade, igualdade racial etc. O terceiro nível será uma plataforma digital onde qualquer pessoa poderá fazer sugestões.
“Queremos que isso vá além da candidatura de Lula em 2018”, disse Joaquim Soriano, dirigente da FPA.
O deputado José Guimarães (PT-CE), secretário de Relações Institucionais da sigla definiu o pacote pré-eleitoral petista como uma tentativa de “reiniciar o caminho com novas ideias e novas propostas para Lula governar o Brasil”.
Durante a reunião, dirigentes lembraram que a conjuntura hoje é muito diferente de 1993, quando o PT não era alvo de uma avalanche de denúncias e Lula não havia sido condenado por corrupção.
Fonte: Estadão