QUE MÁRIO?
Vitor de Athayde Couto
Ouvi em alguma faculdade:
– Tem também aquele cientista italiano, fundador da Biofísica, o “seu” Mario…
– Mario? Que Mario? (silêncio).
– Mario Ageno (1915-1992), não é o que estás pensando – continua o mestre. Mario escreveu um livro intitulado “O que é a vida?”, nem sei dizer em quantos volumes, haha. Mas ele deixou 54 caixas de documentos que ainda poderão ajudar a humanidade, colocando a Física a serviço da Biologia. Tudo indica que se trata de mais um desses casos de inovação ainda não realizado. Igualzinho ao “seu” Gilberto, mas em sentido contrário.
– Gilberto? Que Gilberto?
– Aquele escritor e filósofo inglês, Gilbert Keith Chesterton (1874-1936). Ele dizia que não se deve destruir nenhum conhecimento, anterior à inovação, sem antes compreendê-lo. Para facilitar o entendimento dessa tese, ele recorreu ao exemplo de uma cerca ao longo de uma estrada: a cerca de Chesterton. Se a cerca é inútil, é preciso compreender a sua inutilidade, antes de destruí-la.
– E para que serve isso?
– Parece que ele queria evitar o princípio das conseqüências não intencionais; ou seja, era preciso conter o entusiasmo excessivo dos reformadores.
– Reformadores de quê?
– Ora, de praças, ferrovias, bibliotecas, monumentos, hotéis, escolas normais…
– Queres dizer que ele era contra a inovação?
– Não é isso. Ele era contra a destruição não criadora de objetos cuja utilidade não era compreendida pelo destruidor. Mas aquele mesmo princípio poderia operar também no sentido oposto. As reformas, grandes e pequenas, “tendem sempre a ter uma força que trabalha contra elas: a resistência à mudança.”
– Falar nisso, soubeste de mais uma inovação gastronômica na pracinha dos meios-fios pintados?
– Que inovação é essa, agora?
– Filé miau – uma variedade de espetinho de gato, criada pelo famoso chef…
– Espetinho de gato? Ora, mas isso é tão velho!
– Não, tu não sabes. A moda agora é comer espetinho de gato premium, ao molho californiano gurmê, regado com cerveja artesanal, um fio de azeite, duas gotinhas de limão siciliano, servido num prato quadrado e decorado com um raminho de alecrim, melecado com uma gosma vermelha e outra amarela…
– Pera, esqueceste o principal, o sal rosa do Himalaia, moído na hora.
– Será? Sei não… Eu acho que aquilo é algum sal do Chaval que encontraram na casa da Barbie. Disseram que é um sal grosso cor-de-rosa, muito especial, para fazer barbiecue de picanha.
– Barbiequibis, queres dizer.
– Sim, mas, atenção, não confundas tu, barbiecue com o…
– Triiim! Hora do recreio! Hoje tem churros de ontem, bem requentado, e com leite condensado!
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