Descendente direta dos fundadores do Mimbó, dona Idelzuíta conta que seus antepassados chegaram à região fugindo do sistema escravagista ao qual estavam submetidos em Pernambuco. Eram dois casais negros, que decidiram se estabelecer em uma caverna encontrada no local. “Eles passaram mais de 25 anos na caverna. Aí quando eles viram que não seriam mais procurados pelos brancos, fizeram casinhas de palha na beira do riacho Mimbó”, relata.

Por muitos anos, a comunidade viveu isolada às margens do Mimbó, mas os moradores sofriam muito com as cheias. Em 1973, decidiram se estabelecer na serra, próxima ao riacho, onde vivem até hoje. A história da comunidade pode ser revisitada no alto do Mirante do Mimbó, de onde é possível enxergar o riacho e a antiga localização do quilombo.

Em 2022, pela primeira vez, o recenseamento possibilitará a autoidentificação como quilombola. Com isso, será possível conhecer em detalhe as condições atuais de vida dessa população e identificar aspectos que precisam melhorar em cada comunidade. “O Censo vai trazer uma realidade ainda desconhecida de muitos brasileiros”, comenta a responsável técnica pelo projeto de povos e comunidades tradicionais do IBGE, Marta Antunes.

Conforme moradores de Amarante, a expressão “negro do Mimbó” foi usada por muito tempo de forma pejorativa – evidenciando o preconceito encarado pelos quilombolas da região. Com os dados do Censo Demográfico, será possível retratar quem é o “negro do Mimbó” de fato, ajudando a mostrar que não há motivo para usar o termo de forma ofensiva.

Para dona Idelzuíta, o recenseamento com a possibilidade de autoidentifcação quilombola “é uma novidade muito boa, que a gente não esperava. Cada vez mais, coisas melhores estão entrando na nossa comunidade e a gente se orgulha disso”, destaca.

Só no Piauí, foram identificados pelo IBGE 215 localidades quilombolas, incluindo territórios oficialmente delimitados ou não, distribuídas em 73 municípios. Em todo o país, são 5.972 localidades, em 1.672 municípios de 24 estados e do Distrito Federal.

Fonte: IBGE-PI