RELIGIÕES NO BRASIL 1: IFÉ

 

Vitor de Athayde Couto

 

Qual é a grande surpresa do censo demográfico das religiões que acaba de ser divulgado pelo IBGE?

Ansiosa por conhecer os resultados do maior censo já realizado no Brasil, Ifé analisa as últimas notícias e fica sabendo que o número de adeptos do candomblé e da umbanda triplicou. Por isso andam dizendo que agora é moda.

Habituada ao rigor científico da academia, procura saber qual é a participação de candomblecistas e umbandistas na população total brasileira. Embora essa participação seja pequena, é a intolerância religiosa que explica o aumento do número de brasileiros que se declaram sem religião. Como a intolerância persegue principalmente os adeptos de religiões de matriz africana, é provável que o crescimento e a participação de candomblecistas e umbandistas seja muito maior do que mostram estatísticas movidas pelo medo. Essa é uma das principais razões que leva Ifé a admitir que o Brasil é o maior país cristambeiro do mundo.

O que é cristambeiro? Quais são as religiões que concentram o maior número de analfabetos?

“Ifé nunca foi uma menina normal, fala muito difícil e eu não entendo”, comenta sua avó Alika Ifeoluwà, órfã espiritual. Vó Alika teve parte do corpo queimado, quando criminosos incendiaram o terreiro de ketu e mataram sua ialorixá.

O crime redefiniu a trajetória de vida da menina crescida. Formada em Direito, não encontrou a Justiça que tanto queria, e abandonou a carreira.

Atualmente, Ifé estuda as religiões no Brasil. No doutorado de Antropologia, a sua pesquisa apoia-se na crítica do sincretismo religioso colonial, causa de muitos equívocos. Segundo ela, o sincretismo parte da falsa ideia de que negros escravizados induziam os senhores a acreditar que orixás são os mesmos santos católicos com nomes africanos. Confundir sincretismo com enganação é não perceber o afropoliteísmo como religião agregadora. Ao contrário do que se ensina na escola, o sincretismo nunca foi um mimo para agradar o colonizador católico.

Mas, o que são religiões agregadoras?

Mesmo sem entender tais coisas, vó Alika tem orgulho da neta e crê que tanta sabedoria só pode ser uma dádiva de Nanã Buruquê, dona da cabeça de Ifé.

(CONTINUA)

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