Religiões: NOTAS DE LEITURA 2
Vitor de Athayde Couto
Nenhuma revolução consegue suprimir, da noite pro dia, valores reacionários e conservadores, principalmente costumes. A Revolução de 1930 e o respectivo Estado Novo tampouco conseguiram. Não passam de velhos capítulos da série “golpes brasileiros”, uma velha tragicomédia que está sempre a produzir novas temporadas. E que parece não ter fim.
Historicamente, nenhuma fração do território nacional escapou da perseguição aos valores culturais originários da diáspora africana. Da capoeira ao maculelê. Do maculelê ao batuque no terreiro. Do batuque no terreiro ao samba. Do samba às manifestações religiosas e espirituais. Até o clássico violão ibérico foi expulso dos salões! Esticaram a corda das rabecas e violas. Mas elas resistem e seguem animando forrós-de-rabeca e catiras-de-viola-caipira pelo interior do Brasil profundo, consolidando um respeitável sincretismo cultural.
Agora, a vítima da hora é a estética da periferia – o baile funk das quebradas. Infelizmente, na contramão da pós-modernidade, o modelo policial brasileiro de perseguição periurbana ainda se inspira na velha ordem miliciana colonial de captura, castigo e extermínio-sem-câmera do “nêgo fujão” dos canaviais.
Esses registros encontram-se numa ficha intitulada “LUTA PELA LIBERDADE”, onde Ifé definiu as manifestações da afrodiáspora como focos de resistência.
Logo adiante lê-se uma crítica ao que ela chama de “academia branqueada por conceitos mal traduzidos – e por isso mesmo mal definidos, como identidade, alteridade, autoestima, empoderamento, pertencimento”, que Ifé parece evitar, insistindo na tese da resistência. Para ela, a luta pela liberdade é uma eterna luta-do-vai-e-volta, e tenta explicar:
“A luta-do-vai-e-volta ocorre em todos os espaços da natureza, na interseção de dois mundos: o mundo material e o mundo espiritual. Apropriados e governados por seus respectivos orixás ou deuses, os espaços da natureza material (água, terra, ar, fogo e vegetais) são territórios sagrados. Quanto às pessoas comuns e aos animais, eles vão e voltam, numa eterna luta-do-vai-e-volta. Vai, quando morre; volta, como guia espiritual, tanto para o bem quanto para o mal. Bem e Mal – e seu filho dileto, o Medo – parecem ser uma precondição para a existência da maioria das religiões.”
20 de Novembro de 2025.
Dia da Consciência Negra
(CONTINUA)
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