ROSAS ROSAS

Vitor de Athayde Couto

Se existem rosas de várias cores, por que essa flor é chamada de rosa?

Santa Rita de Cássia, Santa Terezinha do Menino Jesus, e Santa Bárbara adotaram rosas. No seu tempo as cores eram naturais, com significados de fácil memorização. Rosas eram uma dádiva da natureza, ou, para quem preferir, eram criaturas de Deus, nunca de laboratórios de biotecnologias ou de Engenharia Genética.

Como se já não bastassem as tragédias clássicas da humanidade, a busca açodada pelo lucro resultou na invenção de mais de quatro mil cores de “rosas” replicadas em laboratório. São pseudoflores clonadas ou transgênicas, com cheiro de vidro. Felizmente a vida terrena é suficientemente curta para os humanos ficarem inventando tantos significados e ao mesmo tempo nenhum.

Na sua breve passagem por este mundo, as santas mães das rosas deram significado do amor intenso às rosas vermelhas; da inocência e beleza às rosas brancas; do respeito e admiração às rosas rosas; e da felicidade às rosas amarelas.

Foi somente depois de ter lido sobre a vida das referidas santas que pude compreender a pergunta do doutor Euclides, quando trabalhava na execução de políticas agrárias e de apoio aos agricultores familiares:

– Como é que o INCRA vai poder indenizar a terra onde o agricultor plantou o pé de rosa-menina no dia em que sua filha fez 15 anos? Como calcular o valor afetivo e o preço da terra?

Se o preço em si já é uma abstração, avalie o preço de um significado.

Na virada do século XIV para o século XV, Santa Rita de Cássia plantou muitas roseiras nos jardins do seu convento. Ela costumava adotar todas as rosas, não importando as suas cores naturais, desde que perfumassem o ambiente – e havia uma enorme razão para isso, de acordo com a biografia que relata o seu martírio.

Em meio às enormes filas de pessoas que visitam a imagem peregrina de Santa Terezinha do Menino Jesus, observo que ali predominam as oferendas de rosas brancas e vermelhas, ambas adotadas pela santa.

Santa Bárbara, rainha dos raios, trovões e tempestades, deixa bem claro no seu grito: “Epahei Oyá! A minha rosa sempre será vermelha!” – e eu que duvide ou lhe ofereça rosas anêmicas e sem néctar, que nem as abelhas desejam.

Mas não posso esquecer a Santa Mãe de todos. Apesar de atender por vários nomes, Ela adota somente uma cor – que, por sinal, nem é cor, é luz.

Odoiá, Senhora dos Navegantes, da Conceição, das Candeias, e da Piedade são nomes da Virgem Maria, mãe adotiva das rosas brancas de luz, que se revelam trazidas pela fé, sempre misteriosas e flutuantes no azul do mar da Bahia (ouça aqui).

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Ouça o áudio com a narração do autor:

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