TABACARIA
Vitor de Athayde Couto
– Parnásia é um polo turístico. “Rota das Infecções” é o seu principal roteiro turístico. Esse nome foi atribuído pelo “trêidi” – se alguém souber que diabéisso, me faça o favor, e também uma garapa com limão e mel…
– Discordo!
– Pois não?
– Nada não.
– Quem não nada?
Essa conversa de maluco representa um pouco da cultura local. Além dos valores artísticos culturais, é infinita a oferta de recursos naturais. Praias, campos de dunas, lagoas, bandas e bundas. Em duas palavras, turismo sexual. Nada contra. No rádio só se ouve propaganda de doutores altamente especializados. E clínicas. E farmácias. E como tem farmácias!
– Ninovo?
– O quê?
– Nada não.
– Quem?
– Bundas, tudo bem; mas, bandas…
– O que qui tem?
– Banda, por acaso, é recurso natural?
– Tem razão. É um produto cultural.
– Ahá!
– Tudo bem. Só agora fui entender por que vivemos numa cidade universitária.
– Tindí nada…
– Toda quarta-feira, quando começa o fim de semana, a gente só ouve as bandas de som que os parnasianos chamam de música. Tudo de nível superior. Nível altamente universitário.
– Diabé altamente?
– Assim, ó: forró universitário, sertanejo universitário, batidão cuiabano universitário, paredão universitário… Tudo altamente universitário. O som é tão alto que dá pra ouvir em toda a região. Altamente, tendeu?
– Ah, bom. Agora tindí por que chamam aqui de “grande centro universitário”. Altamente universitário, haha.
– Pois…
– Pois é. Tem até tabacaria…
– Diabéisso?
– Motel. Ou casa de tabacos, como se diz lá em Portugal.
– Pois… só por que vende charuto?
– Também.
– Verdade. Perto da praia tem uma tabacaria com nova gerência. Se alguém souber…
– Eu sei. É de um português. Foi requalificada. Tava pra fechar por falta de clientes.
– Por quê?
– Pois… só por causa do nome. Tu sabe, português é muito católico… Adora empreendedorismo. Se alguém souber…
– Pois…
– Mas o proprietário não é um animal empreendedor. Muito devoto, no dia da inauguração, chamou até o senhor bispo, que lá não foi, óbvio. Mas sempre tem aí pelas esquinas algum bispo genérico e empreendedor, que adora inaugurar empreendimentos, desde que se invista nele.
– Dinheiro?
– Sim. Mas pode ser cheque, cartão ou pix.
– Pix?
– Sim, pix.
– Ah… pix.
– Pois… É pix, né?
– É… pix.
– E como foi a inauguração?
– Pagamento adiantado. Pix. Em nome da IFAN.
– IFAN?
– Sim. Igreja Foderosa do Apocalipse Now. Com direito a bênção com água do rio Jordão chuviscada em cima da placa, onde se lê: “Tabacaria Nossa Senhora de Fátima”.
– Eita!
– Pois é… Nada haver (sic). Não aparecia cliente, nem nos fins de semana. Johnattan, o empreendedor, estava muito triste… até o dia em que recebeu a visita de Mike, seu patrício (Johnattan e Mike são os novos apelidos de Joaquim e Manuel). Os negócios prosperaram muito.
– E o que aconteceu?
– Simples. Mike foi logo passando pano no nome “tabacaria”. Mesmo num grande centro universitário, ninguém sabe o que significa. Mandou também contratar uns portugueses pra cantar no bar da sala de espera.
– E o que foi mais que ele sugeriu, para atrair tanta gente assim?
– Mandou trocar a placa. Onde se lia “Tabacaria Nossa Senhora de Fátima”, lê-se “Motel Fados e Fodas. Agora, com nova gerência”. Nos fins de semana tem promoção.
– De quê?
– Do já tradicional baile de máscaras. Quem anvisa, amigo é (ai, que ruim, discupaê).
Comments are closed.