O presidente Michel Temer mostrou-se cautelosamente otimista com a aprovação da reforma da Previdência na Câmara em viagem à Argentina, onde participa de reunião da Organização Mundial do Comércio. “Reforma da Previdência vai muito bem”, disse. “Falei com presidente do PP, PSB e PRB e todos estão entusiasmados com eventual fechamento de questão”.
Cauteloso, Temer citou a chance de vitória como uma possibilidade e que, em caso de derrota, a agenda continuará. “Suponho que talvez seja possível, mas, se não for, essa matéria da Previdência não vai parar”, disse. Até agora, PMDB, PDT e PPS já fecharam questão sobre o tema e apoiarão o projeto na Câmara.
Pela agenda apresentada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a discussão sobre o tema começará na próxima quarta-feira, 13. “Quem sabe, a gente consiga fechar a terça-feira (seguinte, dia 19)”, disse o presidente.
PSDB. No Brasil, aliados do presidente estão cobrando apoio inequívoco do PSDB à proposta do governo. Após discursos de dirigentes tucanos defendendo a reforma, líderes governistas cobraram que a bancada do PSDB na Câmara obrigue seus deputados a votar a favor da Proposta de Emenda à Constituição (PEC).
As declarações do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do pré-candidato à Presidência da República, o governador paulista Geraldo Alckmin, foram vistos como fator propulsor de votos, mas não o suficiente para garantir que toda a bancada siga a proposta, que faz parte do conteúdo programático do partido.
“Foram corretíssimos tanto em reafirmar a questão programática e mostrar compromisso em relação à reforma. É importante que isso se materialize em fechamento de questão”, disse o líder da Maioria na Câmara, Lelo Coimbra (PMDB-ES). O peemedebista argumentou que PMDB e PSDB estão unidos em prol da reforma por razões distintas: o primeiro por ser governo e o segundo por ter a proposta explícita na carta de formação do partido. “Esses partidos não têm como fugir da reforma”.
Durante a convenção que elegeu a nova cúpula do PSDB nacional, Alckmin disse concordar com o fechamento de questão. “Eu, pessoalmente, sou favorável. Fiz a reforma da Previdência em São Paulo em 2011. Minha posição pessoal é pelo fechamento de questão. Mas, além do apoio da Executiva Nacional do partido, é preciso do apoio da bancada”, afirmou. Segundo ele, o partido deve fazer uma reunião para ouvir os deputados nesta semana.
O líder da bancada, Ricardo Tripoli (SP), acredita que os discursos em tom de conciliação podem ampliar a margem de votos pró-reforma, mas estima que serão favoráveis ao tema 25 dos 46 deputados do partido. O cenário hoje, segundo Tripoli, é de apenas 18 tucanos votando a favor do texto.
Tripoli lembrou que obrigar parlamentares a seguir a orientação partidária não é tradição entre os tucanos. “Convencimento é melhor que fechamento de questão. A bancada nunca fecha questão, mas pode até ser que feche”, sinalizou.
O líder do governo no Congresso, André Moura (PSC-SE), cobrou que os tucanos revertam em votos os discursos em prol da reforma. Moura disse que a base aliada tem hoje aproximadamente 270, e destacou que o papel do PSDB é fundamental para aprovar a matéria este ano na Câmara. São necessários 308 votos.
Moura destacou que as declarações não isentam os caciques tucanos de trabalhar pela aprovação da matéria e que, no futuro, se não houver esforço do partido, eles não poderão dizer que defenderam a reforma sem entregar os votos. “O discurso é muito fácil, mas até que ponto é o comprometimento? A participação é no voto. Discurso ajuda, mas não resolve”.
A maior resistência está na ala jovem da legenda, ligada ao senador Tasso Jereissati (CE), que serão foco de pressão nos próximos dias. O senador exerce influência sobre aproximadamente 20 deputados, que têm em comum um pensamento: o de que seria mais fácil aprovar uma reforma conduzida por um governo com credibilidade e não o do presidente Michel Temer. Nem o retorno do ex-ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy (PSDB-BA), às fileiras da Casa é avaliado como um reforço no convencimento do grupo, uma vez que o deputado baiano se distanciou da bancada no período em que esteve no Palácio do Planalto.
As declarações dos tucanos ainda são vistas com ressalvas entre os aliados do governo, que têm dúvidas do poder de influência da cúpula da sigla sobre os deputados. “O discurso (pró-reforma) é um reforço bem-vindo. A grande expectativa é se o discurso não vai destoar da prática”, comentou o líder do DEM, Efraim Filho (PB).
Fonte: Estadão