TOC TOC

Vitor de Athayde Couto

É carnaval. Chiquim Cabeça Fraca ainda não macetou ninguém. Sem perder a esperança, vai até o bar “Motor de Arranque”, tomar uma. Ao chegar, ouve um inesperado toc toc e se desespera. Por uns segundos, consegue ficar imóvel, apesar da tremedeira nas pernas. Meio escondido, ouve também os tic tac inaudíveis do relógio no celular. O que o medo não faz, né? Toc toc, ouve outra vez, mas é um toc toc seguido do grito “tem gente!”. Chiquim respira, aliviado. Ainda bem, o toc toc não é “ela”, é só um cliente batendo na porta do banheiro.

“Fico aqui não” – pensou Chiquim. Ainda assustado, procura outro bar. Ao chegar no “Arco da Véia”, como é chamado o segundo bar, lê no quadro a sigla “PF”, e fica apavorado, pensando que se trata de um posto da Polícia Federal – mas é só uma tabela de preços, onde se lê “PF R$10,00”. Dez reais é quanto custa o prato feito, que, além de PF, atende também pelo nome de marmita ou quentinha, quando é embalado pra viagem, ops, desculpem, agora é delivery.

Determinado, Chiquim continua sua pesquisa (no Brasil, até cachaceiro é pesquisador). Mas o terceiro bar não é um bar, é o “Mosca Frita”, famoso boteco frequentado por bêbados e poetas em situação de rua – desde que não esteja chovendo o-u chuviscando.

O coração de Chiquim palpita, mas não é por causa da Anita original (“Anita quando passa / Meu coração palpita / Ai, ai, ai, Anita”), quem ainda se lembra? Palpita, porque no caminho do boteco Chiquim esbarra no bloco “Vai levando”. Esse bloco é formado só por homens vestidos de preto. Mas ainda não é “ela”.

Na tabela de preços Chiquim leu “Toc toc R$10,00”, sentiu-se mal e desmaiou de medo. Acudido pelo dono do boteco, sr. Pé-Sujo, pergunta “cadê ela?”. Depois de tudo esclarecido, Pé-Sujo informa que toc toc é só uma forma de servir o caranguejo, sempre acompanhado de uma pedra polida e um batedor. Dez reais é quanto custa cada unidade. Parece caro, mas tem tanta saída que Chiquim pensa estar tendo um pesadelo, pois ouve toc toc em todas as mesas do boteco. Todas, menos uma, onde uma mãe segura uma criança em crise de toc de contaminação: a criança recusa-se a comer comida de boteco por achar que é suja. Felizmente, a mãe, acometida de toc religioso, fala com Deus que lhe promete enviar o Espírito Santo para curar o seu filho (dela).

Terminado o carnaval, Chiquim junta ressaca com crise de hemorróidas e vai ao médico. Calçando as luvas, o doutor diz “Vamos fazer um toque”. Ao ouvir aquilo, Chiquim dá um pulo da cadeira, sai quebrando tudo e gritando “Toc não, doutor! Toc não!”. Mas ainda não é “ela”.

O médico aciona o alarme e os seguranças levam o nosso herói ao psiquiatra, que logo diagnostica “O sr. tem Transtorno Obsessivo-Compulsivo”.

Aos prantos, Chiquim Cabeça Fraca implora: “Tudo bem, doutor, mas não fale a sigla dessa doença, por favor!”.

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