SEMANÁRIO JURÍDICO – EDIÇÃO DE 14.12.2018
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 22ª REGIÃO – POSSE DE NOVOS DIRIGENTES.
Na edição passada prometi transcrever o discurso da Desembargadora LIANA CHAIB, proferido na solenidade de posse no cargo de Presidente do TRT 22ª Região, realizada no dia 7 de janeiro do ano fluente, pela riqueza de lições filosóficas, atinentes a vida, os fatos de cada tempo e as particularidades de cada momento, que podem se repetir, mas dotados de novas cores, isto é, de novas roupagens.
O discurso, pelo seu destacado conteúdo, encantou a todos os presentes à referida solenidade. Como prometido, segue a transcrição:
“Não sei quem de vocês assistiu ao filme “Perfume de Mulher”, com Al Pacino. Nele há uma cena inesquecível, em que a personagem, cega, protagonizada pelo próprio Al Pacino, convida uma moça para dançar e ela responde: “Não posso, porque o meu noivo vai chegar em poucos minutos.”
“Mas em um momento se vive uma vida”, ele responde. E passa a conduzi-la pelo salão, em um tango extraordinário.
A cena é o momento mais bonito do filme.
Sim, em um momento se vive uma vida.
E este é um desses momentos em que se vive e revive uma vida: por isso é tão GRATIFICANTE e SIGNIFICANTE para mim.
Digo que revivo, porque estive neste cenário há 14 anos atrás, tomei posse como Presidente desta Corte pela primeira vez, E agora faço pela segunda vez.
Mas cada momento é único e não se repete com a mesma força e nas mesmas circunstâncias. Nas palavras de Heráclito, filósofo pré-socrático, “ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio”. Quando nele se entra novamente, as águas já não são as mesmas, pois aquelas já fluíram e você também nunca será o mesmo a cada vez que nele entrar.
Nesse fluir da vida, hoje, um ciclo se fechou.
No primeiro mandato, os ideais e as circunstâncias não eram as de hoje ; nem o cenário era o mesmo. Entre os ideais, um sonho a ser realizado: a construção do prédio do Tribunal. Dizem que os sonhos nos contam algo que escondemos de nós mesmos.
Sim, acho que estava escondido na alma o desejo de ver a Justiça do Trabalho em um local digno de sua magnitude.
Colocamos a pedra fundamental para que esse sonho pudesse se tornar realidade.
Naquele cenário, vislumbrava eu a presença de meus familiares e, em especial, do meu pai, JORGE AZAR CHAIB, cheio de orgulho.
Hoje, ao tomar posse, vejo o prédio pronto e acabado.
No cenário atual, não mais a presença física do meu pai, mas sua presença resiste em minha memória e, agora, também se eterniza na denominação do edifício-sede, em que foi gravado o seu nome: ED. PROF. JORGE AZAR CHAIB.
Há 14 anos, o orgulho era dele; sentado na platéia, estava o pai feliz com o desdobramento da carreira da filha; hoje o orgulho é da filha, ao contemplar o nome de seu pai eternizado na memória de uma geração.
Como são misteriosos e maravilhosos os desígnios de Deus!
Pois bem. Foi graças ao valoroso empenho de algumas personagens que aquele sonho virou realidade de concreto, aço e esquadrias. Destaco como fundamental e mais importante a contribuição do Ministro Brito Pereira, aqui presente, pedindo licença para quebrar mais uma vez o protocolo e chamá-lo de amigo querido, que guardo debaixo de sete chaves, do lado esquerdo do peito, como diz a canção de Fernando Brant e Milton Nascimento. Sem nenhum favor, o Ministro Brito Pereira foi o protagonista da obra; sem ele não teríamos concretizado o projeto.
E hoje nos encontramos aqui, ele, Min. Brito Pereira, Presidente do Tribunal Superior do Trabalho, eu, na Presidência do tribunal Regional do Trabalho.
Não acredito em coincidências, sorte, alinhamento dos astros ou coisa que o valha. Acredito, sim, em Providência Divina.
Há, também, um outro artífice que eu gostaria de lembrar: o Dep. Mussa Demes já falecido. Meu eterno reconhecimento a ambos.
Assim é que, se Deus me concedeu viver este momento, que é quase um reviver, nele eu gostaria de registrar a minha mais profunda e sincera gratidão. Gratidão que é o mais belo e nobre de todos os sentimentos. Gratidão ao Desembargador Laércio Domiciano, que propôs a grande honraria de homenagear meu pai com o nome do prédio prof. Jorge Aar Chaib. A ele, a eterna amizade e a imorredoura gratidão dos meus familiares; aos meus pares uma dívida sentimental, por terem acolhido prontamente a indicação.
Quanta honraria!
É a história rememorada todos os dias por aqueles que aqui passarem; uma inspiração permanente; uma forma de tornar viva a memória do homenageado.
Mas a beleza e a grandiosidade da homenagem vão além do fato de ela estar cravada em um prédio suntuoso. Elas são maiores na medida em que a deferência se encontra em um prédio que significa a distribuição da justiça; que acolhe os que se encontram desesperançados; que dá um pouco de dignidade àqueles que não têm. Nada seria mais condizente com ele, pois viveu o Direito cada segundo de sua vida.
Portanto, esse momento é daqueles em que se vive uma vida, marcada de lembranças e significados, que permanecerão na memória, o que nos leva a dizer: obrigada Senhor, por todos os seus propósitos.
Mas, como dizia, os momentos são únicos e não se repetem: as águas do rio, que simbolizam as circunstâncias, não são as mesmas, e também não somos mais mesmos.
A Justiça do Trabalho mudou: são tantas metas a cumprir pelo Conselho Nacional de Justiça e Superior da Justiça do trabalho; temos a reforma trabalhista a enfrentar; um cenário econômico desalentador a ser vencido; enfim: outros ares; novos desafios, outros ideais.
Mas, hoje, não lhes vou falar de planos, metas ou dificuldades. Nem mesmo de números, de estatísticas, de conceito de justiça ou de coisas semelhantes. Quero falar de crenças e de esperança. O momento é festivo e não merece ser embotado com palavras áridas e que desafiam o cansaço de todos.
Penso que um discurso deve refletir o que você possui dentro de si.
Por isso, também não quero lhes falar da minha infância, dos meus estudos ou mesmo desafiar um extenso currículo, porque de nada valeria tudo isso se não houvesse amor no coração, sensibilidade no agir, humanidade no tratar.
De nada valeria, também, trazer-lhes os problemas da Justiça do trabalho, sem ver a esperança nos olhos de cada um de nós que dela fazemos parte; aquela esperança nos olhos de cada um de nós que dela fazemos parte; aquela esperança transformadora e que acalenta a alma.
De nada valeria, ainda, relatar-lhes um extenso programa de gestão, se não houvesse a garra e a determinação de realizar, de construir.
Portanto, quero enumerar , nesse momento de emoção, as coisas em que creio e os caminhos por onde andarei;
-Creio em Deus e tão somente a Ele reverencio;
-Acredito em uma Justiça diferenciada, que não pode ser construída por juízes indiferentes; uma justiça, não como favor que se faz, mas como um dever que se cumpre.
-A moderação e a tolerância são exemplos de sabedorias; as coisas excessivamente intensas produzem efeitos contrários. Nas palavras do Padre Antônio Vieira: a dor faz gritar; mas se é excessiva, nos faz emudecer; a luz faz ver; mas se é excessiva, cega; a alegria alenta e vivifica; mas se é excessiva mata.
-Creio na capacidade que cada um de nós tem de dar o seu melhor, de ser criativo, de se agigantar diante das dificuldades e de realizar: porque palavras sem obras são tiros sem bala; ecoam mas não ferem;
-A compaixão deve estar sempre presente; sim, compaixão deve estar sempre presente; sim, compaixão como sendo aquela capacidade que o ser humano tem de sentir a dor do outro doer dentro de nós. Como na canção de Djavan.” Sabe lá o que é não ter e ter que ter pra dar… sabe lá o que é morrer de sede em frente ao mar”.
– Cultivo a humildade; aquela que nos permite errar, aprender e consertar; fortaleço-me na fé e não no medo; a fé impulsiona, alavanca, move montanhas; o medo paralisa, emperra, atravanca.
Por fim, busco a união: todo reino dividido contra si mesmo é devastado; toda cidade ou casa dividida contra si mesma não subsistirá. (Mateus 12:25)
Termino dizendo :
Nesta casa não poderá haver divisão, sob pena de perecermos. Esse é o meu maior papel: cultivar a união entre nós, juízes e servidores, tal como um bom general em batalha, que não deixa apagar a chama da coragem. Coragem nada mais e do que a junção de duas palavras: cor ( coração) e agere (agir) – agir com o coração, lugar onde guardamos os sentimentos da imaginação criativa; do lado feminino; da sensibilidade:
Portanto, não lhes prometo números mirabolantes, nem milagres; mas prometo dar-lhes sempre o meu melhor, para que possamos ter a Justiça que todos merecemos, quando pensamos em buscá-la; aquela que nos faz acreditar nos homens: acessível, justa e célere.
Prometo lhes ter coragem para enfrentar os desafios, agindo firme, mas consultando o coração, buscando a intuição, a sensibilidade, a lhaneza no trato e a certeza de não trair minha consciência e meus valores.
Obrigada a todos que aqui estão para prestigiar esse evento e em especial à minha mãe TERESINHA OMMATI CHAIB, meu companheiro, irmãos, familiares e amigos e, por fim, dedico esse momento às minhas filhas MAGDA, MAYRA E MARCELA, que tornam meu mundo melhor; minha razão de existir.
Mais uma vez, obrigada!”