A cultura no Brasil ainda é um luxo para poucos. Levantamento divulgado nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela que a grande maioria dos municípios do País não tem cinemas, museus ou teatros. O grande bem cultural do brasileiro segue sendo a televisão, presente em praticamente todos os lares, sem distinção de raça, gênero e classe social – e agora também em versão de tela plana.

 

As razões são diversas, como demonstra o Sistema de Informações e Indicadores Culturais 2007-2018, que faz um cruzamento de dados de diversas pesquisas do IBGE. As verbas públicas destinadas à área perderam importância ao longo dos anos e o número de empresas privadas do setor diminuiu. Em tempos de crise econômica, a cultura também está longe de ser uma prioridade na destinação do orçamento familiar.

 

“A crise dos anos recentes levou a uma queda generalizada na capilaridade geográfica dos equipamentos culturais e meios de comunicação entre as medições de 2014 e 2018”, aponta a pesquisa. Os cinemas, por exemplo, estão presentes em apenas 10% dos municípios. Os museus aparecem em 25,9% das cidades e os teatros em 20%. As livrarias tiveram uma queda acentuada desde 2001, quando podiam ser encontradas em quase metade dos municípios (42,7%), e 2018 (17,7%).

 

Uma nota dissonante são as bibliotecas públicas. Presentes em 87% das cidades. “Houve políticas públicas específicas durante muitos anos para aumentar a capilaridade das bibliotecas, o que explica a discrepância”, explicou o coordenador do setor de População e Indicadores Sociais do IBGE, Leonardo Athias.

 

A evolução tecnológica e as mudanças nas formas de consumo de cultura, claro, também influenciam essas estatísticas. Videolocadoras, lojas de disco e lan houses, que já tiveram presença significativa nos municípios, praticamente desapareceram em 2018.

 

O provedor de internet, por sua vez, já alcança 58% dos municípios brasileiros, cobrindo praticamente 85% da população do País. O telefone celular também está bastante difundido no Brasil. Segundo o levantamento, 78,2% das pessoas com mais de dez anos de idade têm um telefone móvel para uso pessoal.

 

O eletrodoméstico mais presente na casa dos brasileiros é a televisão, que está em nada menos que 97,2% dos lares. Diferentemente de qualquer outro bem de consumo, “a posse da televisão não apresenta diferenças significativas em relação à cor ou raça, grupos de idade, nível de instrução e gênero”, sendo, de longe, o aparelho mais democrático do País. A TV de tela plana, por sua vez, já está em 74% das casas.

 

Os gastos com cultura, como era de se esperar, aparecem em quarto lugar no orçamento das famílias, abaixo de alimentação, habitação e transporte. O gasto médio mensal é de R$ 282,86 e representa 7,5% do consumo total. Esse porcentual varia um pouco de acordo com as classes sociais. Mas nem tanto assim. Entre os mais pobres, é de 5,9%; entre os mais ricos, chega a 8%. E como não poderia deixar de ser, a maior parte desse orçamento é destinado à aquisição de eletrodomésticos, telefonia, TV e internet.

 

Verbas públicas

Os gastos públicos em cultura aumentaram de uma maneira geral entre 2011 e 2018, passando de R$ 7,1 bilhões para R$ 9,1 bilhões. No entanto, a verba cultural perdeu importância quando comparada ao total de gastos (de 0,28% para 0,21%).

 

O número de empresas e organizações voltadas para a cultura também caiu. De 353,2 mil (8% do total), em 2001, para 325,7 mil (6,5% do total), em 2017. O número de pessoas ocupadas neste setor também caiu, passando de 4,2% para 3,7% no mesmo período.

 

O setor segue o padrão de desigualdade geral do País. Em 2017, a região Sudeste concentrava 58,5% dos assalariados nas atividades culturais. O setor tem mais ocupados da cor branca do que pretos e pardos, mas o porcentual de negros está aumentando: de 42,3%, em 2014, para 45,7, em 2018. Entre 2014 e 2018 a participação feminina no setor cresceu de 43,7% para 50,5%.

 

Fonte: Correio do Povo