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Está sendo implantado um insetário de Aedes aegypti, para que seja realizada a pesquisa.

A Universidade Federal do Piauí (UFPI) traz para pesquisa científica do país, “o extrato de plantas do cerrado: estratégia de controle de mosquito Aedes aegypti”, projeto natural e autossustentável, coordenado pela professora Veruska Cavalcanti Barros, do Laboratório de Parasitologia e Entomologia Sanitária (LAPES), do Departamento de Parasitologia e Microbiologia da Universidade Federal do Piauí (UFPI), em parceria com a UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais. Idealizado com base em extratos de plantas naturais provenientes do cajueiro e outras plantas do cerrado, é uma ferramenta de combate ao inseto vetor com baixo impacto ambiental, fácil produção e manuseio e baixa toxicidade.

O projeto está em sua primeira fase, restringindo-se ao ambiente de laboratório. “Estamos organizando um espaço para montar um insetário de Aedes aegypti. Nesta primeira etapa, estamos selecionando os extratos com melhor atividade inseticida e/ou repelência, a partir de contato direto extrato-inseto, nas diferentes formas evolutivas, ovo, larva pupa e adultos”, explicou a professora Veruska Cavalcanti Barros.

Atualmente vivemos uma falsa sensação de “empurrar com a barriga” os conceitos e questões que envolvem a prática do controle do vetor de dengue. Para termos uma ideia, os programas de combate ao Aedes aegypti no mundo elegem o controle químico como o principal expoente para eliminação do transmissor da Dengue, Chikungunya e Zika. Este controle empresta certa sensação de segurança com a presença de inseticida, provocando o relaxamento das ações de controle mecânico, de eliminação de criadouros em potenciais. Por outro lado, essa prática é alarmante, pois o planejamento inadequado estimula o aumento do uso doméstico de inseticidas, acelerando, assim, o processo de seleção de espécimes resistentes a esses produtos químicos.

Segundo a professora, este projeto é o “carro chefe” do LAPES. “A resistência observada nos vetores contra os inseticidas existentes no mercado é uma das principais ameaças ao controle de insetos atualmente. O que estamos propondo é uma alternativa de controle natural por meio dos extratos de plantas, com diferentes atividades (inseticida, larvicida e repelente)”.

Grávidas e crianças são as mais vulneráveis

Aedes aegypti é o principal vetor de várias arboviroses, tais como, Febre Amarela, Dengue, Chikungunya e Zika. Fêmeas do Aedes aegypti necessitam sugar o sangue de outros animais, inclusive, o humano, para a produção de seus ovos; e quando infectadas, injetam esses vírus juntamente com a saliva. Há mais de 545 espécies de arbovírus conhecidos, cerca de 150 causam doenças em humanos.

Atualmente, o número de recém-nascidos com malformação congênita, principalmente microcefalias, tem sido associado à infecção pelo Zika vírus nos primeiros meses de gestação. Embora seja uma arbovirose conhecida em outros continentes, África e Ásia, no Brasil, trata-se de uma doença recente e que ainda não foi suficientemente estudada pelos pesquisadores, podendo surgir muitas dúvidas, perguntas, boatos e informações desencontradas sobre o assunto.

“O vírus Zika desenvolve-se no paciente, apresentando sintomas semelhantes a uma dengue branda. Não somente as grávidas podem se infectar e apresentar sintomas, existem pessoas que podem apresentar seu sistema imunológico deficiente, como pessoas com doenças imunossupressoras, bebês, crianças e idosos, que podem apresentar sintomas mais expressivos. A própria grávida, que tem o sistema imunológico fragilizado, é suscetível a uma virose mais grave”, afirmou a professora.

Além disso, os sintomas provocados pelo vírus Zika, como a microcefalia, dá-nos indícios que estamos diante de um espécime mais patogênico. “Essa sintomatologia do vírus Zika, a microcefalia, é nova. É um fato inédito na relação vírus-hospedeiro. Pode ser que estejamos diante de um vírus mais virulento, mais patogênico, e com a sensibilidade maior do sistema imunológico de grávidas, o resultado desta relação seja um quadro grave de microcefalia. Então há muito que fazer, nos resta trabalhar no controle, pois não tem cura, não tem tratamento, vacina”.

Em relação à Dengue, o que se sabe na literatura científica é que, nas formas graves da dengue, crianças compõem um grupo vulnerável, porque não aguentam bem o extravasamento dos fluídos do sistema vascular contribuindo para que seu quadro evolua rapidamente do choque para o óbito.

As publicações científicas descrevem que o vírus dengue não exerce efeitos danosos sobre o feto e não seria causa de abortos ou retardo do crescimento intrauterino. Embora haja na literatura científica algumas observações quanto à possibilidade de ser causa de malformação congênita envolvendo o sistema nervoso central.

Mosquito deve ser combatido pela população e poder público

A dengue, bem como outras arboviroses, é um problema proveniente de uma má gestão pública, nos diferentes níveis, município, estado e país, mas acima de tudo, é um problema de comunicação. Todos os anos, as campanhas que abordam os perigos causados pelo Aedes aegypti e as formas de combatê-lo têm um espaço conquistado no rádio, jornal, internet e televisão. Tudo por causa do silenciamento das questões e condições sociais que estão por trás da produção, reprodução, distribuição dos insetos e a ocorrência, ou não, dos vírus transmitidos por eles. Desta forma, há um modelo de campanha estanque de emissão unidirecional e verticalizada de mensagens para um público leigo.

“Os meios de comunicação e a educação sanitária devem andar de mãos dadas, para que as pessoas possam conversar mais sobre isso, mas não somente no sentido de ‘ter medo de engravidar nesse momento ou quais os perigos de contrair essas doenças’. Também, no sentido de: o que eu estou fazendo para eliminar esses criadouros? E o meu vizinho, o que eu posso fazer para ensiná-lo ou ajudá-lo a combater este inseto? Onde há acúmulo de água aqui, no meu trabalho, na minha escola, em minha casa? Isso seria uma campanha mais efetiva”, alerta Veruska.

Todos nós sabemos que a responsabilidade de combater o mosquito Aedes aegypti não é somente do cidadão que já enfrenta vários problemas sociais e que no seu dia-a-dia tenta manter a casa limpa, sem lixo acumulado, sem depósitos que possam armazenar água parada ou ambiente propício para a reprodução do mosquito. Mas, como o cidadão pode ajudar no combate e prevenção do mosquito se existe a precarização do saneamento básico, moradias inadequadas, fatores culturais, ausências de políticas públicas e educacionais? Se estão mais predispostos a problemas de saúde, a ineficazes serviços de saúde e medicamentos e com maior exposição a fatores de risco como: enchentes, desmoronamentos, desmatamento ou congestionamento habitacional?

“Vejo a população como vítima e, ao mesmo tempo, como responsável por essa atual situação. Se por um lado a falta de informação voltada para a sua realidade, não a descredencia de ser um agente da saúde na luta contra o mosquito. Por exemplo, muitas das propagandas veiculadas nas mídias estão voltadas para eliminação de água acumulada em pneus ou garrafas, o fato de não ter esses elementos em casa, não quer dizer que não tenhamos outros possíveis locais como criadouros. Por outro lado, os órgãos responsáveis pelo controle do inseto utilizam ferramentas que no meu ponto de vista, como entomologista, não são eficientes. Em Teresina, por exemplo, há relatos de mosquitos resistentes a diferentes grupos de inseticidas. É necessária uma avaliação de quais grupos químicos não fazem mais efeito de forma eficiente, mapeamento de áreas que necessitam do uso de inseticidas e de áreas que possam ser submetidas a outras formas de controle. Além de um trabalho preventivo e contínuo ao longo do ano e, não somente, quando um surto ou epidemia é deflagrada”, explica.

Fonte: Meio Norte