Tite abraça Neymar na vitória contra a Colômbia (Foto: AFP)
Tite abraça Neymar na vitória contra a Colômbia (Foto: AFP)

Seleção brasileira é a única das 10 nas eliminatórias sul-americanas a fazer seis pontos na rodada dupla, e técnico comemora desempenho em seus primeiros jogos.

Entre as 10 seleções que disputam as eliminatórias sul-americanas para a Copa do Mundo de 2018, só o Brasil teve 100% de aproveitamento na rodada dupla: venceu Equador por 3 a 0 e Colômbia, nesta terça-feira, por 2 a 1. Os resultados proporcionaram um salto da sexta para a segunda colocação na tabela, mas Tite comemorou o desempenho em seus primeiros jogos.

– Procuro equilibrar as coisas porque é um peso e uma responsabilidade muito grandes, mas foi sim acima do que eu imaginava. Estou feliz porque o desempenho foi acima do que eu pensava.

Questionado sobre a entrada de Philippe Coutinho, que, mais uma vez, melhorou bastante o desempenho do Brasil, Tite não adiantou se tornará o meia do Liverpool titular nas próximas partidas, dias 6 e 11 de outubro, contra Bolívia e Venezuela, respectivamente. O treinador valorizou o trabalho de treinamentos, onde o lado de atuação do jogador foi invertido.

– Ele sempre foi da esquerda pra direita no Liverpool, mas lá é Neymar. Adaptá-lo numa função mais central é difícil, mas vamos ver como se sente na direita. Mas também não posso passar a ideia de que vai jogar um jogo abaixo e vou tirar, estou falando do Willian, porque isso gera insegurança. Vou acompanhá-los nos clubes e dizer para jogarem muito em seus clubes, pois isso vai credenciá-los a serem ou não convocados – disse o treinador.

Tite Brasil x Colombia (Foto: Pedro Martins / MoWA Press)
Duas vitórias em dois jogos pela Seleção foi acima do que Tite imaginava (Foto: Pedro Martins / MoWA Press)

Veja os principais trechos da entrevista de Tite:
 
SEUS MÉRITOS
Não quero aceitar, e não falo por humildade, e sim por inteligência. Um grupo de trabalho se mobilizou e foi convencido de uma ideia para, em tão curto espaço de tempo, tentar implantar. Ainda com falhas, mas de maneira muito consistente. Quando vence com desempenho dá confiança, e saímos de um jogo de alto nível. Estávamos perto de fazer o segundo gol e tomamos o empate numa única bola. O Pekerman (técnico da Colômbia) ajustou o time porque inverteu o lado do James e nos deu dificuldade de saída pelo lado esquerdo.
 
O JOGO
Até o momento do gol da Colômbia, só uma equipe jogou. Depois equilibrou, e no intervalo eu falei que precisava ter um nível de concentração muito alto. Fizemos um grande primeiro tempo, ficamos muito perto do segundo gol, mas tomamos o empate. Aí o que o atleta pensa, se fez tudo e não adiantou? Eu disse: “Pessoal, concentra”. E dentro da nossa característica de triangulação.

MEIO-CAMPO
A ideia é sempre ter um meio-campo forte porque dá consistência e criação. As seleções de 1982, 70, 2002 eram assim. Grandes equipes têm marcas, o grande Flamengo era assim. O Zagallo me disse que tinha cinco camisas 10 e o atacante era o Jairzinho. Não estou comparando, só pegando ideias. Começo a montar o quebra-cabeça com essas ideias.

Tite Brasil x Colombia (Foto: Reuters)
Tite acha que o Brasil ainda não tem uma maneira de jogar (Foto: Reuters)

GOL SOFRIDO
Demos bastante ênfase, mas o James bate bastante bem na bola. Quando se marca por setor, se alguém entrar um pouquinho antes dá opção da conclusão. Esse momento de entrada tem que ser muito bem treinado. Às vezes, os clubes fazem marcação individual. Eu não gosto porque quando um atleta faz a finta, fica livre para cabecear. Por setor, sempre haverá alguém para fazer a cobertura, mas precisa ser sincronizado.
 
PRÓXIMOS JOGOS CONTRA BOLÍVIA E VENEZUELA
Serei direto: nível de concentração e comprometimento. Saber sofrer como equipe é fundamental. Eles vão saber que sem bola vão ter que trabalhar. O Neymar só vai aparecer se o conjunto der a ele o passe para o último terço do campo. O Marcelo só vai aparecer se o Casemiro der sustentação, o Renato abastecer, o Miranda na bola longa. É pré-requisito para vencer saber sofrer, marcar e competir.
 
TORCIDA
Um carinho muito grande. Ela só ficou um pouquinho impaciente no segundo tempo, eu pensei: vai começar o burburinho quando trabalhar a bola de um lado para o outro. É um pouquinho da nossa cultura, eu dizia: “Calma”. Virei umas duas ou três vezes e pedi calma para que o torcedor compreenda, para encontrarmos a melhor solução. Se tivesse que vir de novo, viria de olhos fechados para Manaus.
 
JÁ TEM MANEIRA DE JOGAR?
Não. Está num processo de evolução. Não sei se a flutuação é mais ampla pela esquerda com o Neymar ou se ela é dupla. Estamos procurando competição de alto nível entre os atletas. É importante ter opções de qualidade. O Coutinho e o Giuliano entraram bem. Ontem eu falei para os reservas que dois ou três provavelmente decidiriam o jogo. Para se prepararem porque estavam treinando, e se houvesse um declínio técnico ou físico, iriam para o jogo.
 
DESPEDIDA DOS ATLETAS
Vou falar para eles que estou muito feliz porque eles voltarão para seus clubes iguais ou melhores do que vieram, e que joguem muito porque a Seleção vai precisar deles iguais ou melhores também.
 
GESTO DE FÉ NO FIM DO JOGO
Às vezes, as pessoas confundem minha forma de falar. Não sou padre, não sou nada, só tenho princípios. Peço que não confundam princípios, espiritualidade, com querer convencer alguém de alguma coisa. Faço isso para me manter em paz, e não para vencer. A paz me leva a fazer um bom trabalho, é isso que busco.

Fonte: Globo Esporte