Você e seu pet estão em casa, tranquilos, e, de repente, ele começa a correr freneticamente pelo quintal — ou mesmo dentro de casa — sem motivo aparente. Já viu isso acontecer? Pode ser um episódio de zoomie.

O termo em inglês é um apelido para a explosão energética, mas o conceito científico se trata, na verdade, de períodos de atividade frenética aleatória. São episódios intensos de ações de alta energia, como corridas, voltas em círculos, giros, pulos e rolamentos.

Eles duram alguns minutos e podem ser “contagiosos” — pets que veem outros vivenciando um zoomie podem se juntar à atividade por mera diversão.

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Apesar de haver pouca referência científica ao redor desse tema, o que parece é que os animais costumam experimentar zoomies quando estão muito animados ou diante de uma explosão de energia. É o que explica Susan Hazel, médica-veterinária PhD e professora de bem-estar, comportamento e ética animal na Escola de Ciências Animais e Veterinárias da Universidade de Adelaide, na Austrália.

“Esses episódios são imprevisíveis em meus pets, mas outros tutores podem conhecer alguns dos gatilhos que deixam os seus animais tão excitados que fazem um zoomie.”

Para Pamella Perry, médica-veterinária PhD em comportamento e bem-estar de animais de abrigo e professora na Cornell University, nosEUA, há alguns comportamentos que podem denunciar um zoomie vindouro.

“Porque não temos estudos sobre o tema, é difícil apontar com certeza, mas o fenômeno parece ser um meio de liberar energia reprimida ou reduzir o estresse. Se um animal fica confinado o dia todo, ele pode se envolver em uma liberação compensatória de energia, gastando-a rapidamente.”

A sua fala faz sentido, principalmente se buscarmos comparações em outras espécies, como animais de fazenda. Segundo Pamela, estudos com esses grupos mostraram que, ao restringir o seu movimento em uma cabine de laticínios, por exemplo, e finalmente deixá-los sair depois em uma área em que possam se movimentar livremente, eles tendem a exibir um comportamento mais lúdico.

“Eles compensam a restrição desta maneira. Parece que animais que são restritos, no sentido de não serem estimulados o suficiente durante o dia, tendem a exibir essa supercompensação com os zoomies à noite”, diz Pamela.

No caso de animais mais ansiosos que agem de forma parecida, o ideal não é focar no comportamento, mas, sim, no que está causando essa ansiedade.

“Geralmente, zoomies indicam que os animais estão se divertindo, mas se o pet se comporta de maneira similar por ansiedade, é uma questão diferente que precisa ser tratada de maneira adequada”, explica Pamela.

Outro gatilho para zoomies seria um “olhar de doido” reportado por alguns tutores, que Pamela explica ser devido à dilatação das pupilas em decorrência do entusiasmo.

“É como se dissessem ‘estou prestes a me soltar’. Eles podem ficar um pouco tensos e imediatamente depois começar a correr. Mas os zoomies são tão espontâneos que é difícil prevê-los.”

Provavelmente, o período do dia em que os episódios acontecem depende da rotina individual do bicho, mas Pamela tem a impressão de que eles tendem a ocorrer mais à noite, quando os tutores estão em casa após o trabalho.

“Os gatos, em particular, são crepusculares, por isso são mais ativos ao amanhecer e ao anoitecer. Então eles se tornam mais ativos quando o sol se põe, momento do dia em que, na natureza, eles estariam caçando”, explica.

Em sua experiência, os episódios acontecem mais no período que Pamela chama de witching hour, entre 21 e 22 horas. Mas pets podem vivenciar zoomies a qualquer momento do dia, principalmente como resposta a um excesso de agitação.

Pamela conta também que já foram reportados episódios de zoomies após os seus pets defecarem — o que acontece, inclusive, com os seus cinco gatos.

“Eles defecam e vêm voando pelas escadas, e eu penso ‘já sei o que você fez lá embaixo’. Com a minha cadela, ela defecava, batia as patas traseiras na grama algumas vezes e então começava a correr.”

Diante da associação dos dois comportamentos, a médica-veterinária acredita que haja um componente de prazer no zoomie.

“Provavelmente eles se sentem melhores depois que eliminaram tudo, então por que não expressar isso e gastar um pouco de energia no processo?”, diz.

Quem vivencia os zoomies?

Atividades frenéticas aleatórias ocorrem para cães e gatos de qualquer idade — mas, segundo Susan, podem acontecer com mais frequência nos mais jovens:

“Provavelmente animais mais jovens com níveis mais altos de energia e excitação são mais propensos a fazer zoomies do que os mais velhos”.

Mas animais idosos já foram vistos praticando o comportamento, ainda que por um tempo e com intensidade bem menores do que quando o faziam durante a juventude.

Zoomies fazem bem para os pets?

A linguagem corporal de um pet durante o zoomie é positiva e indica que ele está se divertindo, então provavelmente não está relacionado à angústia ou à dor. E o comportamento, em si, não oferece grandes perigos aos animais.

O problema está quando eles acontecem fora de casa, quando os pets podem se desprender da guia durante a agitação e correr em direção à rua, por exemplo.

Outra questão é quanto a possibilidade de se chocar contra objetos em casa. “Zoomies só seriam perigosos se houvesse um obstáculo e o pet se machucasse ao se mover tão rápido, ou se ferisse outro animal ou pessoa ao fazê-lo”, explica Susan.

O perigo é maior quando o ambiente conta com objetos cortantes — por exemplo, um dos gatos de Pamela já quebrou uma lâmpada durante um episódio de atividade frenética aleatória.

É preciso ter cuidado, também, com interiores com escadas ou cujo piso é escorregadio, o que pode oferecer perigo aos animais que correm descontroladamente.

Uma solução é investir em superfícies antiderrapantes, manter os pets sem coleira apenas em interiores e retirar do caminho quaisquer objetos que possam ser quebrados ou ferir os animais.

“Para deixar o ambiente mais seguro, tenha um espaço que permita a corrida sem obstáculos — isso pode até ser em uma área pequena. Nosso labrador retriever de 9 meses faz zoomies ao redor da nossa mesa de centro, por exemplo”, diz Susan.

Mas, de forma geral, a orientação é que os tutores intervenham apenas se houver algum risco iminente, pois o comportamento tende a não durar muito tempo.

Isso não exime a necessidade de prestar atenção na frequência e intensidade desses episódios, pois, se altas, podem denunciar um problema comportamental.

“Se o animal está fazendo isso com muita frequência a ponto de tornar um problema para o tutor, então ele provavelmente deve descobrir outras maneiras de gastar essa energia, como um pouco mais de estimulação”, aconselha Pamela.

“Envolver pets em algumas atividades pode ajudá-los a liberar um pouco da energia acumulada. Brinquedos interativos para gatos e brincadeiras de pega-pega com cachorros podem ser úteis”, sugere. Ela diz ainda que é importante focar também em enriquecimento mental, e não apenas em exercícios físicos.

Caso a explosão de energia ocorra uma vez por dia ou algumas vezes por semana, não há motivos para evitá-la.

Apesar do teor empírico sobre o conceito, é importante ressaltar que não há muita pesquisa científica sobre zoomies em pets, então nada deve ser tratado como regra. Espera-se, contudo, que eles se tornem objetos de estudo em um futuro próximo para termos mais certeza sobre a sua natureza e como lidar com eles.

 

Fonte: Vida de Bicho