O sobrado tinha 4 fachadas livres

Quem passa pela Avenida Presidente Vargas e olha para o sobrado dos Dias da Silva, conhecido como a Casa Grande da Parnaíba, vê o prédio cercado por tela indicando que obras estão sendo feitas ali.

 

O retábulo de Nossa Senhora, que fica bem na quina do sobrado, está protegido por madeira e recoberto de lona. As portas estão, na maioria, fechadas e as janelas, arrebentadas umas e semiabertas outras, aumentam o aspecto de pertencerem a um casarão abandonado.

 

Não se vê homens trabalhando e, à primeira vista, pensa-se que nada está acontecendo no sobrado. Engano. Lá dentro, quase em silêncio, o mestre de obras Joel comanda o serviço especializado de um grupo de pedreiros, carpinteiros e marceneiros. É o trabalho de restauração da Casa Grande, um trabalho projetado e executado pelo IPHAN com a empresa O.F. Restauros, do Maranhão.

 

Desse trabalho, vários caminhos do projeto inicial já foram revistos e adaptados à novas prospecções. A principal descoberta é que foram encontrados arcos emparedados de portas e janelas voltadas para a Catedral, revelando que havia ali uma quarta fachada livre, ou seja: nos primeiros anos da Casa Grande não havia ainda o sobrado ao lado, aquele que alguns parnaibanos achavam que era a verdadeira Casa de Domingos e de Simplício Dias. Há até alguns que ainda acham.

 

O arquiteto do IPHAN, Raglan Gondim, que fiscaliza o andamento das obras, declarou, com exclusividade ao jornal peagabê O Bembém:

 

“Na fachada que se volta para a igreja encontramos uma série de aberturas, janelas e portas que foram emparedadas. Ora, isto significa que, quando foi construído, aquele edifício tinha uma fachada livre voltada para a Igreja. Encontramos arcos em alvenaria tradicional que mostram um certo acesso da casa aos fundos da igreja. Tanto na igreja tem um arco emparedado que se volta para o sobrado como o sobrado tem um arco emparedado que se volta para a igreja. Sinalizam aí uma ligação mítica existente.”

Assim, fica provado que o sobrado do meio, situado entre a Casa Grande e o fundo da Catedral, foi construído bem depois da Casa Grande. Acredito que depois da morte de Domingos Dias da Silva, o pai de Simplício e Domingos. Deve ter sido construído para para residência do filho mais novo, Raimundo, depois do seu casamento.”

 (Nota: leia a entrevista completa de Raglan Gondim no jornal O Bembém, de junho, nas bancas da Parnaíba.)