BALÕES DE ENSAIO

 

Vitor de Athayde Couto

AS PROFISSÕES DO FUTURO

O professor dava aula sobre o fim do emprego. Um aluno perguntou quais seriam as profissões do futuro. Sem hesitar, o professor respondeu na lata:

– Cuidadores de idosos e entregadores de pizza.

Sem acreditar, o aluno, que achava mecatrônica o bicho, sem nem saber o que significa, pensou:

– Esse professor pode até ser doutor, mas ele é doido. Preciso confirmar essa informação com o pastor da minha igreja.

O leitor:

– Qual seria mesmo a informação?

HOJE, AGORA, SÓ AMANHÃ

Em algum lugar do presente, os motoboys agora eram heróis. No passado, são agora os novos cowboys. Todo ano fazem milhões de entregas. Deu no rádio que na cidade de São Paulo morreram 405 motoboys só no ano passado (2022). Por causa da pandemia, as cirurgias eletivas foram suspensas. A mesma fonte noticiou que na capital paulistana já são mais de 68 mil motoboys esperando na fila de cirurgias ortopédicas. Vivendo de quê?

TÚMULO DO SAMBA

Sem ver nenhum motivo para comemoração, nem mesmo para simplesmente festejar, a garoa fantasiou-se de enxurrada e arrastou os foliões para o túmulo do samba. Literalmente, infelizmente.

BALÕES DE ENSAIO

Luanzinho cresceu dormitando quase 24 horas por dia, exceto nas sessões das tardes “mornais, normais”. Devorou milhares de “videoteipes, mormaço, março, abril e pulgas mil na geral”, produzidos para consumo do grande público, até que a mensagem fez efeito. Agora ele só confia nos americanos e nunca irá perceber que é apenas mais uma vítima das lavagens que modelam os célebros teens da América Lateena.

Em algum lugar do seu subconsciente e outros subs, escondem-se milhares de old glories – as bandeiras americanas que Luanzinho pensa que não viu em todos os filmes quase sempre rodados em Nova Iorque (subliminar). Mas nem assim ele aprendeu o caminho para ir, a pé, do parque central até a grande maçã. Em contrapartida, acredita que aprendeu inglês só porque, se tiver fome, sabe pedir vários tipos de sanduíche aos jovens imigrantes que sobrevivem no trampo dos fast-foods.

Por distração, viu um pedaço do noticiário, justamente quando os novos caças americanos abateram, ao custo de R$2,4 milhões cada míssil, uns três ou quatro objetos identificados. Nos filmes, esses objetos são mais conhecidos como não identificados, mas acabam de ser atualizados para “espião chinês”, como também era “chinês” o vírus da Covid-19, alguém ainda se lembra? No final, os balões eram só brinquedos de clubes de balonistas americanos.

O primeiro segundo transcorrido foi de puro medo, mas, a partir do segundo segundo, respirou aliviado porque a NASA já tinha convocado a liga da justiça, ou seja, a indústria capitalista de armamentos. Ele não consegue perceber que esse noticiário está sendo espalhado para cumprir dois objetivos. Primeiro, divulgar os melhores caças do mundo (americanos, claro) para os vendedores aproveitarem os tempos de guerra e faturar bastante. Segundo, desviar o foco da guerra na Ucrânia, justamente na semana em que está completando um ano, mas até hoje ninguém combinou nada com os russos.

Depois do padre de festa junina, um balão de ensaio a mais não faz diferença para quem é brasileiro. Ainda bem que, nos filmes, os aliens só atacam Nova Iorque, a capital do mundo, claro. Como a reação americana é sempre em defesa de todo o planeta Terra, claro, Luanzinho foi dormir tranquilo e sonhou com a mulher maravilha. Na manhã seguinte já estava apto para o trabalho na empresa de entregas por aplicativo, onde era bem tratado pelo patrão que o chamava de colaborador, do jeito que aprendeu na pós de empreendedorismo.

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