BOTOX

 

Vitor de Athayde Couto

Na sala de pediatria do hospital, um bebê, com o rosto muito inchado, está sendo atendido.

– Qual é a alimentação do bebê? – pergunta a pediatra acariciando a pele rígida, porém lisinha, do rosto sem expressão do bebê.

– Ele só mama no peito – responde a mãe.

– Não comeu nada diferente?

– Não, senhora. Só as mamadas.

– Mas esse rosto inchado… parece até que alguém aplicou botox nele.

– Que é isso, doutora? Magina! Só eu cuido dele, ninguém mais.

De repente o bebê começa a chorar bem alto. A mãe, entendendo a linguagem do choro, diz:

– Ele quer mamar, doutora.

– Pois sente-se ali naquela cadeira de braço que eu vou observar.

Entre os seios da mãe vê-se uma tatuagem colorida de coraçõezinhos onde se lê: “Praça do Amor”. O bebê abocanha o bico do peito com sofreguidão, mas o choro não para. A pediatra logo percebe que a mãe não tem leite, o peito está vazio. Ao examinar com mais detalhe, a doutora pergunta à mãe:

– A senhora já fez alguma prótese?

– Sim, doutora – responde a mãe. – Trezentos gramas de silicone.

– Deus do céu!

– Que foi doutora? – pergunta a mãe, apavorada.

– O menino mamou todo o silicone! Vamos logo tratá-lo, antes que ele morra. Enfermeira! Prepare um leito na UTI Pediátrica! É urgente!

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