CRÔNICA DAS CRÔNICAS

 

Vitor de Athayde Couto

 

“Esperemos, então, a mãe de todas as crônicas. Mas as filhas, para mim, já satisfazem hehehe.” Seria esta a expectativa dos leitores? Alguns deles fazem comentários assim. Sempre muito interessantes. Vale a pena divulgar para que todos desfrutem do território que cada um guarda na memória. Cada um com a sua Parnasia. Esta “crônica das crônicas” é uma colagem, mas tem a minha maior admiração e respeito.

 

Crônica 058 DONFISCOTE (28/05/2021):

De Ipiaú, onde havia um Cine Éden, uma leitora escreveu:

“Após o comentário do ouvinte/leitor sobre o cinema Paradiso, e, por ter citado o Cine Éden, lembrei de dois fatos relevantes, ocorridos aqui.

1 – Meados da década de 60, auge dos filmes de Brigitte Bardot, censurados para menores de 18 anos, além da fiscalização paterna também em alta, a curiosidade corria solta. As janelas laterais do Cine Éden davam para o amplo jardim da casa dos avós de Clarice. Parecia um clube. Varanda, várias salas, muita gente circulando e principalmente jogando. O padre era freqüentador assíduo das rodadas noturnas, por isso só chegava atrasado para a missa das 7h. Com os adultos envolvidos na jogatina, a garotada colocava uma escada que chegava até a janela do cinema, e se revezavam para ver um pedacinho do filme censurado que estivesse passando. Não pagava ingresso, não corria o risco de ser devolvido para casa por não ter idade de entrar no cinema à noite. Fiz parte da turma que subia a escada. Não lembro dos filmes. Lembro da folia. Claro, dependia das férias escolares, quando Clarice estava por lá e eu freqüentava a sua casa.

2 – Por volta de 1965, Clarice foi obrigada a ir a uma sessão da matinê de domingo, para impedir que a irmã mais nova sentasse ao lado do colega ginasiano que a paquerava kkk. E o destino fez com que esse colega fosse o sentinela que dava plantão nos corredores do Hospital Militar, em 1971, onde Clarice era presa política.”

 

Crônica 059 BRINCAR DE MÉDICO (04/06/2021):

“Hahaha, gostei muito. Lembrei demais da minha infância. Essas brincadeiras de médico eram constantes”.

“Na idade certa. Para nós e na crônica fica aparente o que você quer dizer. O problema é como se construiu e recarrega a bateria da distinção social e acesso aos bens e serviços valorizados em grupos sociais específicos. Médicos educados assim focalizam na distinção a sinalização do sucesso pessoal. O assunto é grave e capturou todas as novas gerações…”

 

Crônica 060 EU TENHO UMA TIURÍA (11/06/2021):

“Além de tiuría, você tem uma excelente imaginação. Pois não é que, outro dia, fiquei preocupado com o acompanhamento do meu urologista? As informações ainda manuscritas em papel ofício, e as receitas decifradas com a ajuda do farmacêutico…”

“Eu me divirto muito com as leituras. Viajo na maionese diet.”

“Tua imaginação é fértil. Jesus que me abane!”

 

Crônica 061 SOLTARAM AS ONÇAS (18/06/2021):

“Viajei pro interior geográfico e emocional.”

“No sentido de ótimas abstrações, lembranças, imaginações…”

“Uma viagem no tempo.”

“Só faltou a difusora em que se ofereciam músicas ‘para a morena de saia azul’, quando não se sabia o nome. De cabaré, entendo não, mas cheguei a descer para um tal de ‘Castelo’, na Ladeira da Montanha.

“Adorei a crônica. Fiquei lembrando os tempos idos, maravilhosos, que não voltam mais.”

“Sobre os fatos que você descreve, da sua praça, consegui imaginar a minha praça, mesmo não tendo vivido naquela época. Eu também começava pela ida à praia no domingo de manhã.”

“Desculpe se estiver sendo injusto, mas aquelas cenas após o apagar das luzes me fizeram imaginar que você fazia parte desse time de garotos.”

“Muito bonito. Sugere múltiplos aspectos daquele nosso mundo. Tudo apresentado numa prosa elegante e sofisticada, na qual, a mistura de palavras próprias aos personagens da trama sugere a riqueza da narrativa conduzida pelo autor. Abraços.”

 

Crônica 062 SALIÊNCIAS (25/06/2021):

A propósito da falsa unidade autor-personagem, recebi de uma jovem poeta:

“E digo também, quando escrevo sobre o amor, perguntam se estou apaixonada. Quando escrevo sobre a morte, perguntam se quero morrer ou se estou infeliz com a minha vida. Se escrevo sobre o corpo feminino, perguntam se sou lésbica, por ficar elogiando tanto a silhueta feminina. Aiai, eles não entendem, kkk… Mesmo assim, com tantas perguntas, me aventuro nas minhas histórias.”

“Você é saliente kkk. O que é saliência? Pode ser uma protuberância em uma superfície ou excesso de liberdade. Você cabe em qual dos dois conceitos?”

“Sim, todo mundo tem direito de sonhar. Já dei um Anaïs Anaïs para uma paquera, na adolescência. Besta não era. Fui ficar besta depois de adulto kkk.”

“Me perdoe se estiver abusando dos personagens, mas… só sei que foi assim.”

“Continue escrevendo e divertindo os seus leitores e suas leitoras.”

 

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Escute o texto com a narração do próprio autor: