DIA DO FICO OU DIA DO FICANTE?

 

Vitor de Athayde Couto

Dom Pedro I foi um imperador muito edificante. Corajosamente recusou-se a negociar a independência com seus opositores. A proposta do centrão, sob a forma de projeto de lei no parlamento imperial, determinaria que o imperador gritasse “Independência ou, quem sabe, a gente faz um acordo, tipo orçamento secreto de emendas parlamentares…” etc., bem no estilo do que viria a ser o congresso nacional, dois séculos depois, ou seja, hoje. Mas Pedro resistiu e prometeu muitas mortes aos opositores da independência.

Afora o grito “independência ou morte”, que se ouviu às margens plácidas do posto ipiranga, a sua política edi-ficante consistia em ficar com o maior número possível de raparigas novinhas da corte.

Quando Pedro dizia à sua esposa “Amélia, vou acolá!”, apesar de ter um nome complicado, Amélia de Leuchtenberg, mulher de verdade, abaixava a cabeça e silenciava. Enquanto isso, a corte tremia. Todas as famílias de bem proibiam as novinhas de saírem do quarto, com medo dos assédios do príncipe do cavalo branco.

Para oficializar o principal programa do seu governo, conhecido como “minha cama, minha vida”, Pedro criou o Dia do Fico. Nove meses depois, mais precisamente no final de setembro, quando ainda ecoava o grito da independência, muitas produções independentes começaram a nascer, povoando a ex-colônia e transformando a sociedade brasileira num grande matriarcado de mãezinhas solteiras. Ao contrário do que aconteceu na colônia do Norte, os nossos fundadores não são pais da pátria e, sim, mães da pátria. Gentis, por sinal.

Infelizmente, os sucessivos golpes de estado foram criando feriados inócuos, em datas tão desimportantes quanto pouco ou nada representativas. Por essa razão, golpistas e historiadores de plantão acabaram esquecendo as datas mais importantes, principal referência para se compreender a formação do povo brasileiro. Mas há controvérsias no congresso nacional, onde nossos ilustres representantes ainda não se decidiram pelo dia 9 de janeiro, Dia do Fico, ou pelo dia 12 de junho, Dia do Ficante. E assim foi sendo gerado um povo edi-ficante, alegre e cordeiro.

Ao voltar de cada furunfada, o imperador sentava-se ao piano e cantava “japonês tem quatro fi-ilhos”, sem parar de repetir, entre cálices de vinho do Porto: “Tudo o que faço é para o bem do povo e felicidade geral da nação”, com direito à cacofonia mais brega. Isso mesmo, danação, onde todo mundo fica com todo mundo, inclusive no carnaval. Esse é o meu povo – o povo brasileiro.

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