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Cientistas reforçam tese que associa infecção pelo vírus a anomalias no feto.

A comprovação de que anomalias severas, inclusive a microcefalia, podem ocorrer em fetos de mulheres infectada pelo vírus zika em qualquer período da gestação é uma das maiores contribuições de um estudo pioneiro feito com grávidas do Rio de Janeiro. Realizada pelos cientistas Patrícia Brasil e José Paulo Pereira Leite, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com colegas da Universidade da Califórnia, a pesquisa foi publicada sábado na revista científica “The New England Journal of Medicine”. O trabalho feito com 42 gestantes de bairros do Rio, da Baixada Fluminense e de Teresópolis mostra que 29% dos fetos infectados sofreram defeitos congênitos.

Qual foi a constatação mais preocupante?
Patrícia Brasil: Problemas com o feto e com a gravidez foram descritos em qualquer idade gestacional, até mesmo no terceiro trimestre, com casos de natimortos e ausência de líquido amniótico. Os dados sugerem que o zika pode afetar negativamente a gestação em qualquer momento.

O estudo sugere então que a zika pode causar complicações em fases mais avançadas da gestação?
José Pereira Leite: No final da gravidez, as alterações nos fetos parecem decorrentes do acometimento das placentas, como crescimento intrauterino retardado e alteração do volume do liquido amniótico que, se detectada oportunamente, pode prevenir o sofrimento fetal. Verificamos alterações fetais em todos os trimestres.

No estudo, a zika é comparada com a rubéola. Quais são as diferenças?
Patrícia Brasil: A rubéola não causa má-formação fetal quando contraída após 20 semanas de gestação. Mas, no estudo, más-formações foram observadas quando a infecção pelo zika ocorreu até a 27ª semana. Além disso, constatamos, também no terceiro trimestre, ausência de líquido amniótico e morte do feto.

Qual é a orientação para as gestantes?
José Pereira Leite: Não é fato que todas as gestantes infectadas terão bebês com anormalidade. Mas o estreito acompanhamento pelo obstetra pode indicar a necessidade de intervenções que podem salvar a vida do bebê.

OS PESQUISADORES
Patrícia Brasil: Líder do Grupo de Pesquisa Clínica em Doenças Febris Agudas do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas – Fiocruz

José Paulo Pereira Leite: Chefe do Departamento de Obstetrícia e Ambulatório de Infecções Congênitas do Instituto Fernandes Figueira (IFF) – Fiocruz.

Fonte: O Globo