INDEPENDÊNCIA OU…

 

 

Vitor de Athayde Couto

 

Independência ou, quem sabe, a gente faz um acordo?

 

Aos portugueses nunca faltou coragem. Único povo a atravessar o mar infinito naquelas condições de navegabilidade do século 15, quando os americanos só conseguiam invadir territórios indígenas para matar milhares de… bisões. Logo depois, matariam pobres apaches, comanches, sioux, moicanos, mexicanos e outros chicanos, além de vietnamitas, iraquianos, sírios, afegãos… Menos russos e chineses. Nestes dois últimos casos, os valentes preferem terceirizar e só enviam armas – para júbilo da indústria de armamentos.

 

Dizem… haha, nem acredito que estou escrevendo “dizem”, sem nenhuma comprovação ou referência. Se eu substituir “dizem” por “consta que”, “conta a lenda”, “diz a História”, “alguns autores”, “as últimas pesquisas”, além de muitos etc., não resolve nada. Estarei apenas reproduzindo uma certa escola literária conhecida como porra nenhuma.

 

Haha, isso me faz lembrar uma crônica do João Ubaldo Ribeiro (JUR), publicada na Tribuna da Bahia, jornal onde estagiavam estudantes da UFBA. Nós éramos copidesques. Ele, nosso redator-chefe.

 

A gente cumprimentava o chefe dizendo “BonJUR”, mas ele não ria. Rir é fácil, dizia ele. Quero ver fazer rir. Sim, fazer rir era a sua especialidade.

 

JUR morava na sua heróica Itaparica quando foi importunado em casa, em pleno fim-de-semana-da-fubuia, por um grupo de turistas. Os paulistas (só podiam ser paulistas), tinham sido informados pelo guia-turístico (paulistas adoram guias-turísticos) da existência, na ilha, de um escritor nativo (turistas paulistas adoram falar “nativo”).

 

JUR ainda era um escritor pré-acadêmico. Por essa razão, escrevia muito. As suas crônicas eram diárias (!). O livro “Viva o povo brasileiro” requereu dez meses de pesquisa somente na Torre do Tombo, em Portugal.

 

JUR estava ansioso porque tinha marcado a fubuia hebdomadária com Vado, no bar do Seu Nezinho. Mas os paulistas ainda insistiam com perguntas “tipo” (eca!) “qual é a sua graça?”, “a que escola literária o senhor pertence?” e tome etc. Por sorte dele, ainda não se faziam essas breguices horrorosas conhecidas como selfies. Mas eu, com muito orgulho, guardo “uma fotinho” (eca!) tiradx com ele, numa máquina de… com perdão da palavra… retrato.

 

Voltando aos portugueses, “dizem” que o grito do Ipiranga só aconteceu por causa de uma cólica principesca. Pedrinho tinha ido furunfar com a marquesa de Santos. “Dizem” que ela sabia fazer um incomparável creme de galinha. Voltando a São Paulo, não aguentando a cólica, pediu penico urgente (PPU) às margens do riacho Ipiranga, onde poderia lavar o forévis depois do ato heróico.

 

Fico imaginando se o príncipe-cagão fosse brasileiro desses de agora. Ao invés de gritar “Independência ou morte!”, cochicharia no ouvido do imediato mais imediato, cobrindo a boca com a mão para impedir leituras labiais:

 

“Iaí, pá. Eu grito independência ou morte, ou… (ai) quem sabe… (ui) a gente faz um acordo com o centrão?”

 

REGISTRO

 

A crônica de hoje é a 105ª. Lembro de quando levei a primeira, “Festa surpresa no Céu”, para ser publicada no Portal Costa Norte. Quem me atendeu com a maior atenção, no dia 05/12/2013, foi a advogada Aline Bezerra. No dia 24/04/2022, recebi com imensa tristeza a notícia do seu falecimento precoce. Não posso deixar de registrar aqui a perda dessa profissional tão querida por todos os seus colegas, que soube unir competência, gentileza e generosidade. Coisa rara nos tempos atuais.

 

 

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Escute o texto com a narração do próprio autor: