dsc_1240Com apenas 20 anos, Gabriel Medina é um dos responsáveis pelo surfe estar se tornando um esporte popular no Brasil. Se no exterior, o surfista já é conhecido de longa data e apelidado de “The Freak” (A Aberração) pelo talento, os brasileiros começaram a acompanhar mais de perto a trajetória do jovem em agosto. Foi quando Medina venceu Kelly Slater, maior nome da história da modalidade, por três centésimos e ampliou a vantagem sobre os rivais na liderança do Circuito Mundial de Surfe (WCT). O fenômeno da prancha também se tornou um monstro do marketing. São oito patrocinadores. Em sua última visita à praia de Maresias, em São Sebastião, litoral de São Paulo, ele mal teve tempo para ficar em casa. Foram diversos compromissos com fãs, patrocinadores e imprensa. O tempo livre faz parte do acordo que Medina tem com seu padrasto e técnico, Charles Rodrigues. Agora, às vésperas da etapa final do WCT, no Havaí, o jovem está em “rotina militar” de treinamentos. Além de isolado de amigos e família, nada de ações de marketing ou entrevistas. Embora Medina tivesse apenas seis meses de idade quando Ayrton Senna morreu em um acidente de carro, o tricampeão da Fórmula 1 é seu principal ídolo. O surfista já leu livros e assistiu ao filme com a trajetória do piloto várias vezes. Pelo espírito competitivo, Medina já foi comparado a Senna. Agora, a meta é seguir os passos do seu “espelho”.

Nos últimos dias de sua passagem pelo Brasil, Medina falou sobre seus planos, suas ideias, o assédio e a preparação para a final em Pipeline Masters. Confira:

Como é a rotina do Gabriel Medina quando não está competindo?
Quando não tenho nenhum compromisso consigo aproveitar com a minha família (Simone, sua mãe, além dos irmãos Sophia e Felipe). Por exemplo, hoje acordei, tomei café em casa com a minha família. Mas no começo da tarde tinha compromisso. Agora (19h), estou aqui com você. Terminando, vou para a igreja com a minha mãe

E como ficou a questão da timidez? Seus amigos Johnny e Grilo, disseram que na adolescência você era travado com relação à mulheres. Uma vez até fugiu da escola para evitar. Ainda existe essa timidez ou você perdeu por tudo que passou?
Perdi. Devido às coisas que tive que fazer, ao meu trabalho. Tive que ir para Austrália sem falar inglês e tive que aprender lá. Então tive que perder essa timidez. Eu era muito tímido. Tinha uma vez que eu estava surfando, vi uma menina me observando e fui remando direto para minha casa para não ter que encontrar ela. E era uma menina que eu ficava. Mas hoje em dia eu estou tranquilo, me viro bem.

Existe privacidade diante de tanto assédio?
Minha privacidade é em casa, com meus amigos, minha família. Lá que acabo me divertindo, na verdade. Jogo poker, pingue-pongue. Converso com a galera. Se tem amigos, chamo meus amigos para minha casa. Essa é minha privacidade.

Tem muitos atletas até mais velhos e de outras modalidades, que já citam Gabriel Medina como um ídolo. Como você se sente quando vê uma entrevista de alguém dizendo que é fã do Medina?
É muito legal. Bom ver o surfe crescendo. É um esporte que não era muito visto no Brasil para ser sincero. Mas devido aos meus resultados e a possibilidade de título aumentou. Questão de mídia e a oportunidade que estamos tendo agora é única. Estamos tão perto de alcançar este título que vou dar tudo de mim para que o surfe possa crescer. Vai ser bom para mim, bom para o Brasil, bom para o esporte. É maneiro ver o surfe crescendo assim.

Além da premiação acumulada neste ano (US$ 391 mil), você tem oito patrocinadores. Como fica a administração do seu patrimônio? Tem alguém que cuida ou é você mesmo quem gerencia?
Quem administra meus patrocinadores e minhas coisas são meu tio (Jaime) e meu pai (Charles). Estamos fechando com a Samsung. É uma empresa gigante. Muito bom estar no time. Mais um parceiro que me ajuda na minha carreira. Algumas cenas do esporte ficam marcadas para sempre. Qual imagem, você gostaria que ficasse registrada se você conquistasse esse título mundial?
O meu ídolo é o Ayrton Senna. Claro que nunca vou chegar aos pés dele. Muitas pessoas já me disseram que temos a personalidade parecida. Até acho um pouco pelo que eu assisti no filme dele. É um cara muito inspirador, bem frio. Amava competir. Podia estar com o pior carro que pela força de vontade, pela garra, ele conseguia chegar aonde queria. É um cara que sempre dedicou. Eu quero um dia ser igual a ele.

O Ayrton Senna também ficou conhecido pela liderança entre os pilotos. Você também tem essa postura entre os surfistas, principalmente entre os mais jovens?
Nunca fui. O surfe é muito individual. Claro que no carro também é individual. Nunca fui de ficar cuidando dos outros. Não temos muito contato uns com os outros. Sou mais junto com a galera do Brasil. Sempre competimos juntos. Com os gringos, temos amizade de trabalho. Encontramos todo dia, falamos “oi, tudo bem?” e é isso. Eu quero servir de exemplo para as crianças que estão aprendendo surfe.

Você costuma falar muito da sua família como um porto seguro. Já pensa em ter sua própria família, ser o pai Medina? Já faz planos para daqui a cinco ou 10 anos. Ou como você disse, agora que perdeu a timidez, quer aproveitar?
Sou muito novo. Não penso em casar e ter filhos ainda. Estou vivendo um momento muito bom. Quero aproveitar ao máximo. Tenho 20 anos agora. Não vou voltar aos meus 20 anos, então quero aproveitar ao máximo. O que tiver que ser vai ser. Quando eu conhecer a mulher da minha vida, eu vou saber, vou ter meus filhos. Deus está no comando. Com certeza, ele tem o que é melhor para mim.

Cherles Rodrigues e Gabriel medina
Cherles Rodrigues e Gabriel medina
Gabriel Medina com a família
Gabriel Medina com a família

O QUE MEDINA PRECISA PARA SER CAMPEÃO MUNDIAL

– Se Medina perder na segunda (25º) ou na terceira fase (13º) em Pipeline, precisa torcer para Slater não vencer a etapa, e Fanning não chegar às semifinais. Caso Fanning pare nas quartas, os dois farão uma bateria homem a homem para decidir o caneco.
– Se perder na quinta fase (9º), tem que torcer para Mick não chegar à final.
– Se perder nas quartas (5º) ou nas semis (3º), tem que torcer para Mick não vencer a etapa.
– Se chegar à final, conquista o título, independentemente do resultado de Mick.

Fonte: Globo Esporte