MITOS BRASILEIROS

 

Vitor de Athayde Couto

 

No mundo inteiro circulam mitos incontáveis. No Brasil, também circulam tantos quanto, e mais um, infelizmente.

Durante décadas a grande imprensa brasileira, ops, a mídia vem destacando dois mitos controversos. Por essa razão, quase ninguém entende nada. Trata-se do mito da cidade-luz e do mito das águas de março.

O MITO DA CIDADE-LUZ

Nos brejos secos da vida (leia aqui), o prefeito é sempre o chefe do clã da família Buscapé. Prefeitos sucupirenses, quando inauguram um poste, ao som do hino nacional, sempre esquecem aquele que, por justiça, devia ser o convidado de honra para a festa, ou seja, o cachorro. Só não esquecem de comparar Brejo Seco com Paris, a cidade-luz. Ao cuspirem seus discursos, fazendo chover milhões de perdigotos sobre o capinzal, os prefeitos sucupirenses não hesitam em declarar que o iluminismo led, que ora inauguram, faz dos seus brejos secos cidades mais bem iluminadas do que Paris.

– Mas, e daí, Guirindó? Qual é a controvérsia desse primeiro mito? – perguntou Maruzinho.

– Repare, Maruzinho, o problema é que os “historiadores” que frequentam academias e publicam na grande imprensa, ops, na mídia estão sempre divididos assim: a primeira metade deles afirma que Paris é chamada de cidade-luz por ser a mais bem iluminada do planeta. Outra metade considera que Paris é cidade-luz porque concentra as mentes mais iluminadas e brilhantes, embora isso não tenha nada a ver com os brejos secos da vida. Quanto à terceira metade, os “historiadores” ainda não chegaram a nenhuma conclusão porque continuam “pesquisando”, ou seja, entrevistando celebridades, autoridades, políticos e outros espelhos mágicos de madrasta que “só falam a verdade”.

– Hum… E qual seria o segundo mito?

O MITO DAS ÁGUAS DE MARÇO

– Então, o segundo mito são as águas de março. A controvérsia reside na barafunda que a grande imprensa, ops, a mídia faz, quase sempre confundindo águas de março com águas de chuva. Porém, quem fecha o verão não são as águas de chuva, são as águas do mar.

– Do mar? – surpreendeu-se Maruzinho.

– Sim, do mar. Do mar, oceano, mar-ço, entende? Pois é, qualquer pescador baiano sabe que existem duas grandes marés anuais, quando a Lua se aproxima da Terra.

– E quais são essas marés?

– São as marés de março e de agosto. Até Dorival Caymmi sabia disso, haha.

Como teria dito Mark Twain: “Uma mentira pode correr seis vezes pelo mundo antes que a verdade tenha tempo de vestir as calças.”

– Haha, teria dito mesmo?

– Maruzinho, Mark Twain, ou melhor, Samuel Langhorne Clemens, foi escritor, humorista, crítico do racismo, e viveu no Mississipi, o rio. Na adolescência, bem antes de se tornar marinheiro e piloto de embarcação, foi ajudante. Sua função era medir a profundidade do rio com ajuda de uma vara marcada como se fosse uma grande régua. A lenta embarcação não deveria navegar com menos de dois pés de lâmina d’água sob a quilha. Quando a água atingia a marca número dois, ele gritava para os marinheiros, que alertavam o piloto: “Mark twain! Mark twain!”, ou seja, “marca dois!”, que o jovem Sam acabou adotando como pseudônimo literário.

– Quer dizer, Guirindó, se o tal Mark mentisse, a embarcação encalhava?

– Tá começando a entender o mal que a mentira faz, né, Maruzinho?

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LIBERALISMO TABAJARA

Um liberal tabajara pensa mais ou menos assim:

– Só acredito no mercado, mas… Ah, esse Estado que eu tanto odeio e ao mesmo tempo amo de paixão! Só espero que o governo americano salve os bancos falidos e mal administrados pela iniciativa privada.

– E, no Brasil?

– No Brasil, acho que o BNDES devia cobrir o rombo bilionário que os gestores privados deixaram nas contas das Lojas Americanas.

– Hum… Pois num é que os juros estão mesmo muito altos?! – surpreendeu-se Maruzinho, mas já era tarde demais.

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Ouça a crônica narrada pelo autor: