O ÓCULOS
Vitor de Athayde Couto
O comandante do voo adverte que é proibido fumar “NOS” toaletes.
Cá, com meu cinto de segurança, fico pensando nas garçonetes, nas marionetes, nas patinetes, nas lanchonetes, nas camionetes… e muitas outras palavras que que terminam com “ete” – são palavras originalmente femininas, que sugerem tamanho reduzido (a exemplo das palavras espanholas com terminação “ita”). O que será que ainda falta pra começarem a falar “O” garçonete, “O” marionete, “O” patinete, “O” lanchonete, “O” camionete…?
Quem terá sido o primeiro brasileiro ou português a masculinizar as toaletes, as omeletes, as musses, as crepes e as quiches – todas elas sendo palavras femininas na origem? Pra não ser muito chato, admito que a maioria da população fala assim mesmo – e é melhor deixar quieto. Afinal, muitas dessas palavras já estão dicionarizadas como sendo masculinas, a depender dos gramáticos, dos dicionaristas ou dos autores dos manuais de grandes jornais (na falta de um saudoso Caldas Aulete atualizado).
Agora, chato mesmo é ser corrigido por ter sido fiel à etimologia da palavra, ou por ter observado a concordância associada ao seu gênero de origem.
Certa vez, quando integrava uma “comissão de especialistas” (sic), no Ministério da Educação, com o objetivo de avaliar projetos de novos cursos superiores, eu era o único representante da região Nordeste e não havia ninguém da região Norte. Durante uma reunião, eu havia deixado meus óculos do outro lado da grande mesa. Dirigindo-me a um colega, pedi:
“Por favor, você poderia passar meus óculos?”
E o colega:
“Quantos? Eu só estou vendo um.” – e todos caíram na gargalhada.
O colega continuou:
“Você usa dois?” (novas risadas).
Eu respondi:
“Sim, um óculo para o olho esquerdo e outro para o direito”.
Acho que muitos professores-doutores até hoje não entenderam e devem estar falando “O” óculos.
Esse é o meu povo, o povo brasileiro.
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