O SAPO INÁCIO

À memória de Manuel Bandeira

 

Vitor de Athayde Couto

ÚLTIMA HORA

Cientistas acabam de descobrir evidências de que, para nossa alegria, o planeta do Pequeno Príncipe não é plano, apesar de ser plane-ta. Descobriram também que, se fosse plano, o principezinho viveria triste. É que nos planetas planos não existe por do sol.

RIBIT

A mulher do sapo foi quem me contou que o marido dela era professor de inglês e só fala “ribit”, “ribit”, “ribit”…

CAMISA VERDE

Na beira do igarapé um sapo de camisa verde lava o pé. – “Não lava!” – “Lava!” – “Não lava!” Enquanto isso, as piranhas lá fora arreganham os dentes e gritam: “fum, mas que chulé!”

SAPOETA

O cururu jururu demorou, mas acabou aprendendo, pelo sofrimento, que não basta apaixonar-se para se tornar um grande poeta. Será que ele virou príncipe, largou tudo e foi-se embora pra Pasárgada? Se foi, não foi. – “Foi!” – “Não foi!” – “Foi!” – “Não foi!” – “Foi!”

PARNASIA

Vou-me embora de Parnasia. Aqui sou inimigo do rei. Dizem por aí que o rei está nu. Mas, excepcionalmente, nos domingos de missa ele desfila de sunga azul turquesa, pra desencanto da beleza. A patuleia ignara aplaude.

O SAPO INÁCIO

O sonho de consumo de todo sapo é virar príncipe, nem que seja um príncipe pequeno, daqueles que têm mania de conversar com as flores. Depois de tanto esperar por um beijo apaixonado, o sapo Inácio desistiu da realeza, autodenominou-se poeta e caiu de amores pelas três mulheres do sabonete Araxá, que conheceu na tampa flutuante de uma velha embalagem encontrada no lixão da beira do rio.

Desenhos de meu neto Dian Couto (14 anos)

__________________________________________________________

Ouça o texto com a narração do próprio autor: