PESQUISA INGLESA PARA BRASILEIRO VER

 

Vitor de Athayde Couto

 

Ouviu-se no balcão do Café Globo:

 

– Aí, galera! Aproveita pra tomar muito café! – anunciou Guirindó, todo se achando.

 

– Lá ele! Tomar, não, beber! – retrucou Galalau, completando com o seu clássico bordão – Sô ômi, rapá, táminstranhando?

 

Sempre conferindo se a peixeira está na cintura, Magarefe não se conteve, cuspiu no chão e desafiou, apontando com o fura-bolo direito:

 

– Este cuspe é a mãe do Guirindó.

 

Cuspiu outra vez e continuou:

 

– E este aqui é a mãe do Galalau. Quero ver quem pisa primeiro na mãe do outro.

 

Silêncio total no abrigo da praça.

 

Magarefe, sempre muito escroto, sabia que Guirindó e Galalau vinham se fresqueando nas últimas semanas. Por várias razões chegaram a se estranhar. Dinheiro emprestado, tomou namorada, chamou de viado, de corno, do iscambáu, sabe-se lá o que mais. Chamou até de comedor de miojo – o pior xingamento nesta pós-modernidade imprevisível, pior até do que chamar de corno. Depois que o Jânio Quadros proibiu briga de galo, a vida em Parnásia ficou tão sem graça que Magarefe provocava todo mundo pra ver se rolava fáite. Sim, briga de gente, coisa que nenhum presidente chegou a proibir. Tem uns presidentes que até incentivam. Ele só queria se divertir, mas daquela vez não rolou, porque…

 

– Café faz bem pra saúde, sabiam? –  retornou Guirindó ao tema do dia.

 

Enquanto aspiravam o aroma típico do Café Globo, no abrigo da velha Praça Central, todos se entreolharam. Datilôia, desconfiado, comentou:

 

– Ué! Semana passada li no jotabê que café faz muito mal à saúde.

 

– Fazia – disse Guirindó – Porque n’O Globo desta semana li exatamente o contrário. Café faz é muito bem.

 

Pronto! Estabeleceu-se a maior discussão em torno de um assunto pra lá de manjado – que os jornais requentam como se fosse novidade e algo muito sério. Volta e meia os ingleses divulgam essas pesquisas sobre alimentos que ora fazem mal, ora fazem bem, conforme a falta de assunto na imprensa (ou na mídia, como se diz em Parnásia). Além do café, as maiores vítimas são o ovo, a carne de porco (que os parnasianos chamam de carne suína), limão, açúcar, edulcorantes (que os parnasianos chamam de adoçantes), chia, infusão dos hibiscos de cores variadas, e a eterna dupla sertaneja Margarina & Manteiga. De todos, o maior injustiçado é o porco. Entretanto, os pesquisadores (sempre os ingleses) estabeleceram o seguinte: no primeiro semestre, a gente divulga que o café faz bem à saúde. No segundo semestre, que faz muito mal. E assim procedem com os demais alimentos pesquisados. Ora fazem mal, ora fazem bem, ora fazem mal… Mas nenhuma pesquisa supera os milhares de descobertas de cura do câncer.

 

Guirindó, muito sério, reportou-se às suas novas leituras. Revelou seu último grande achado: os pesquisadores ingleses são os eternos campeões das pesquisas inúteis. Eles adoram investigar por que a torrada cai sempre com o lado da manteiga virado pra baixo. A caneta esferográfica cai sempre com a ponta virada pra baixo, etc.

 

– Mas isso é a lei de Murphy! – gritou Descascado.

 

– Não, Descascado! – retrucou Guirindó. – A lei de Murphy não existe. É mais uma lenda. E nisso os ingleses são bons. O maior feito deles, em todos os tempos, foi a invenção de um detetive que nunca existiu. Não satisfeitos, ainda inventaram um assistente. E ganham muito dinheiro com isso. Os turistas, principalmente os brasileiros que visitam Londres, não hesitam em gastar muitas libras comprando capa, boné, cachimbo e lupa, idênticos aos que pertenceram a um tal Xerloque. E ficam surpresos quando visitam a casa onde ele morou, na rua do padeiro, e não acham uma padaria. Depois fazem selfies… haha.

 

Descascado apenas limitou-se a dizer que tudo isso só deu certo porque os ingleses acreditam em fantasmas. Continuando, acrescentou que viu um filme em que aparece uma velhinha paranaense, orando no túmulo daquela dupla sertaneja britânica Sherlock & Watson, pedindo para eles ajudarem a lavajato… em-o-nome-de-jesus!

 

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Escute o texto com a narração do próprio autor: