Há setenta e oitos anos, no dia 28 de julho de 1938 quando o bando de Lampião foi finalmente encurralado e dizimado numa emboscada da volante comandada pelo tenente João Bezerra no Poço Redondo em Angicos, nas Alagoas, estava morta e encerrada uma época das mais desgraçadas para os estados nordestinos, à exceção do Piauí e do Maranhão, onde conta a historia, o mais famoso cangaceiro numa chegou a imaginar colocar os pés.
Talvez pela pobreza dos dois, Piauí e Maranhão, Virgulino Ferreira da Silva e seu bando não tenham subido no rumo de cá. Sorte nossa. No Piauí, se falava à época, só existiam pedras, calangos e muita gente feia. E no Maranhão, gente que mal tinha para comer uma mucheia de farinha. Logo ele imaginou que seria gastar o solado das alpercatas e a beleza de Maria Bonita com pouca coisa. O cangaceiro pernambucano gostava mesmo era de dinheiro e na terra de Alberto Silva e de Sarney era coisa na mão de poucos. Como ainda é até hoje.
Conta a história que quando foi morto pela volante de João Bezerra naquela madrugada de julho dentro de umas locas de pedras feito bicho bruto, Lampião carregava uma verdadeira fortuna, fruto de saques, roubos e extorsões em quase vinte anos de carreira política: joias, cinco quilos de ouro e mil contos de réis, quantia suficiente pra comprar 120 carros de último tipo ou umas duas casas de veraneio na Barra Grande ou uns cinco pontos comerciais na movimentada avenida São Sebastião, em Parnaíba.
Mas voltando pra atualidade, ocorre lembrar aqui com certa decepção e raiva dessa novela sem fim da Operação Lava Jato. Agora um enrolado achou de abrir a boca e dar nome aos bois, que o Jornal Hoje, horário de uma da tarde, sexta-feira, dia 09, foi inteirinho só dando os nome e sobrenomes. E entre políticos velhos e conhecidos, aqueles que receberam uma pontinha no bolo estão alguns piauienses. Muitos desses que andam toda semana aqui na Parnaíba e pela beira da praia dando tapinhas em ombro de caboclo.
Mas surpreendeu mesmo e foi motivo de muita gargalhada quando divulgada a relação de nomes, as referidas quantias e as datas, foram os apelidos de cada um desses políticos, deputados federais, senadores, governadores, enfim, toda sorte e marca de gente graduada no pé do batente do presidente Michel Temer. Imagine o camarada ser conhecido por Decrépito, Cerrado ou Boca Mole, Índio, Santo, Diplomata, Todo Feio?
Então a gente fica aqui pensando as parecenças e diferenças de Lampião e seu bando naquele julho de 1938 com os políticos de hoje. Roubando do povo, enricando a olhos vistos, escondendo fortunas dentro de toda sorte de buracos, escondidos com medo de cadeia e da execração pública. Uns entregando os outros agora numa tal delação premiada e ainda por cima tidos e conhecidos pelos apelidos mais ridículos. O mundo apenas se repete de vez em quando.
Eu corri ligeiro a fazer uma pesquisa na internet à procura de apelidos de cangaceiros, que em muito se assemelham à vida que estão levando os políticos brasileiros da atualidade. A lista é longa, mas tem gente de nome assim como Bagaço, Bananeira, Boca Preta, Cachimbo, Caixa de Fósforo, Cansanção, Casca Grossa, Chico Caixão, Cobra Preta, Faísca, Fiapo, Jacaré, Labareda, Meia Noite, Pinga Fogo, Rajado, Sabonete, Saracura e Vassoura. No Congresso Nacional, se escacaviar por quem recebeu propina de empreiteira e está implicado na Lava Jato, ainda vai ter muito apelido…
Por Pádua Marques