Os prefeitos estão aproveitando a estrutura do PSF (Programa Saúde da Família) para atender os médicos do Mais Médicos. Os itens de alimentação, moradia e transporte deveria ser bancada pela prefeitura. Mas, para economizar, utilizam o PSF, onde os médicos vão dividir as quentinhas, o carro e o local de repouso, na maioria dos municípios.

No município de Caraúbas, a 250 Km ao Norte de Teresina, sem saneamento básico, com a economia a base da agricultura familiar, boa parte dos 5,5 mil habitantes estão inscritos em programas sociais como o Bolsa Família. Lá teria dois médicos do programa Mais Médicos para atender a população. Atualmente, dois médicos do PSF atendem duas vezes por semana no município e qualquer caso, além de uma consulta, o paciente é encaminhado para Parnaíba, a 100 Km de distância.

A cidade tem quase metade da população inscrita no programa Bolsa Família. O índice de escolaridade é baixo e o governo do Estado deu um incentivo financeiro no programa Mais Viver para melhorar o ensino na rede pública. O objetivo é reduzir as taxas de analfabetismo, abandono e reprovação escolar. Os municípios com maiores índices de extrema pobreza são os priorizados neste programa.Dados levantados pelo IBGE apontam que a cidade tem apenas dois estabelecimentos para atendimento de saúde e somente atendimento ambulatorial ou odontológico, que funcionam no mesmo local. Não realiza nenhum tipo de exame ou atendimento de emergência.

O município de Caraúbas estava recebendo dois médicos do Mais Médicos. Mas continua sem estrutura para atendimento. A Prefeitura pediu dois médicos, mas apenas um se cadastrou para o emprego. E este, o médico Ricardo Salles, quando foi se apresentar para o serviço, informou que não teria como cumprir a carga horária de oito horas diárias, ou 33 horas semanais. E pediu desligamento do programa.

A secretária municipal de Saúde de Caraúbas, Simone Ramos de Sousa, disse que os médicos do programa não chegaram ao município. Ela disse que o único que foi cadastrado, dos dois que pediram, solicitou o desligamento do programa. “Ele informou que não tinha tempo para cumprir a carga horária. Eram dois, mas só um se cadastrou. O médico Ricardo Sales se cadastrou, mas não assumiu. Agora, vamos aguardar nova etapa para solicitarmos outros médicos, nem que seja estrangeiro.”, comentou Simone.

Ela disse que o município tem estrutura para atender a atenção básica (que compreende serviços como consultas, primeiros socorros, etc.). “O compromisso do município é com a atenção básica e isso cumprimos. Não temos como atender média e alta complexidade. Além do mais, isso é atribuição do Estado. Temos testes como do pezinho, da orelhinha e coleta para exames, além de ações de prevenções.”, comentou a secretária.

“Os médicos do Mais Médicos devem atuar também fazendo visitas, consultando, fazendo palestras, como é a atuação dos médicos do PSF. A habitação para eles, se precisar a gente aluga uma casa. Mas, pela rotina deles, de oito horas, eles vão definir se querem morar ou só cumprir a carga horária. Se ele quiser morar, vamos buscar o local. Quanto a alimentação, temos que ter a nossa contrapartida.“, adiantou Simone Ramos, dizendo ainda que os médicos podem utilizar o mesmo carro que já atende a equipe do PSF.

A base econômica do município é a agricultura, mas a maior parte da população depende de programas sociais como o Bolsa Família ou os benefícios da Previdência Social. A maioria dos atendimentos no município diz respeito a acidentes de motos, alcoolismo e pequenas ocorrências. As mais complexas são encaminhadas para Parnaíba, a 100 Km de distância, ou Teresina. A cidade é pobre, recebeu asfalto a pouco tempo, somente na avenida, e o abastecimento d´água é feito por chafariz, com tratamento de hipoclorito de sódio. Não tem saneamento básico.O presidente da Associação Piauiense de Municípios (APPM), Arinaldo Leal, comentou que boa parte dos municípios ainda não recebeu os médicos. “Tem uma lista de médicos sendo esperados nos municípios. Não sabemos quantos já assumiram, mas alguns desistiram. Para nós prefeitos médicos são prioridade nos municípios.”, comentou Arinaldo Leal, que é prefeito do município de Vila Nova do Piauí.

“Há prefeitos há favor e contra a vinda dos médicos, porque acreditam que o município deverá arcar com salários, o que não nos foi repassado. Acredito que tudo o que vier para melhorar, será bom. Sabemos também que o problema não é só a falta destes profissionais, mas questões estruturantes que passam pela construção e reforma de unidades e a questão das cirurgias de média complexidade”, destacou o prefeito.

Em Teresina, no primeiro dia de atendimento do Mais Médicos, teve fila no posto de saúde do bairro Poti Velho, na zona Norte. O médico se apresentou e atendeu até por volta do meio-dia, mas não compareceu para o segundo expediente. Ele alegou que iria resolver problemas pessoais e alegou que ainda não tem cronograma de trabalho. O médico não teve o nome revelado. O outro médico foi cadastrado para atender o posto de saúde do povoado Cacimba Velha, na zona rural da capital.

O Piauí receberá 19 médicos cubanos a partir da segunda quinzena de setembro. Os números foram divulgados pelo Ministério da Saúde. O município de Esperantina, no Norte do Estado receberá três médicos. Outras oito cidades aguardam por dois profissionais cada: Acauã, Barras, Betânia do Piauí, Campinas do Piauí, Cocal, Morro Cabeça no Tempo, Pio IX e São Miguel do Tapuio.

Fonte: Portal Az