Detentas assistem aulas com frequência e desejam vagas no ensino superior (Foto: Catarina Costa / G1)
Detentas assistem aulas com frequência e desejam vagas no ensino superior (Foto: Catarina Costa / G1)

Privadas de liberdade, nove das 116 detentas da Penitenciária Feminina de Teresina também vêm se preparando para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que acontecerá nos dias 9 e 10 de dezembro nas unidades prisionais do país. Para elas, a oportunidade é vista como uma chance de mudar de vida, conseguir redução da pena e até mesmo a reinserção na sociedade. Ao todo, 127 presos farão o exame no Piauí.

Pela primeira vez no Enem, a detenta Joana D’Arc, 26 anos, conta que sonha em ser pediatra e para isso frequenta todos os dias as aulas oferecidas pelos professores da Secretaria de Educação dentro do presídio. O bom comportamento e o interesse pelos estudos já reduziram a pena da interna, que comemora faltar apenas dois meses para a sua liberdade.

“Penso na minha filha de 7 anos e no futuro que quero oferecer para ela. Fui presa por tráfico de drogas e durante o tempo que passei aqui terminei o meu ensino médio. Agora pretendo conseguir uma vaga na faculdade, seguir outros planos. Apesar de nunca ter feito a prova, conheço a metodologia do exame porque os professores sempre trazem questões de edições passadas para nós e não achei difícil”, contou.

Já a jovem Thaís Soares Robalo, 21 anos, pretende fazer o Enem para retomar o curso de recursos humanos que ela deixou quando foi presa por estelionato em Brasília. “Quero voltar a estudar e como cheguei faz pouco tempo, estou assistindo as aulas somente como ouvinte para poder fazer a prova. Gostava do meu curso e espero consegui uma bolsa na faculdade”, declarou a detenta.

Outra que também pretende mudar de vida pelos estudos é a interna Maria Clementina do Nascimento, 34 anos. Ela fará pela terceira vez a prova e revelou ter reforçado os estudos este ano, inclusive para fazer concurso. “Deixei a oficina de bicicleta, onde eu ganhava uma renda, para assistir as aulas. Eu espero conseguir aprovação em biologia e quando cumprir minha pena por tráfico quero viver tranquilamente com minha filha de 6 anos”, disse.

Segundo Raimundo Carvalho, representante estadual do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) nos presídios do Piauí, o preso é beneficiado com as horas de estudo. A cada 12 horas de estudo comprovado, o detento abate um dia na pena. “Este ano foram apenas 127 presos inscritos no Enem, número ainda pequeno se comparado com outros estados. Às vezes não falta vontade dos detentos, mas porque alguns deles ainda têm problemas de documentação isso já é um impedimento para a inscrição deles”, contou.

No Piauí, as penitenciárias com detentos inscritos no exame foram: Floriano (28), Parnaíba (20), Picos (19), Bom Jesus (16), Esperantina (11), Feminina de Picos (10), São Raimundo Nonato (10), Irmão Guido (3) e Major César (1).

O exame para os detentos segue o mesmo molde da primeira versão que será aplicada nos dias 8 e 9 de novembro para 8.721.946 candidatos. No primeiro dia, os candidatos terão quatro horas e 30 minutos para fazer as provas de ciências humanas e ciências da natureza. No segundo dia, será a vez das provas de linguagens e códigos, matemática e redação com cinco horas e 30 minutos de duração. O exame começa sempre às 13h.

Com o Enem, os candidatos, dependendo do desempenho, podem solicitar a certificação do ensino médio ou ainda disputar uma vaga no ensino superior por programas como o Prouni (que oferece bolsa de estudos na rede privada) ou Sisu (que seleciona para as universidades públicas).

Fonte: G1 Piauí