O presidente Jair Bolsonaro se filiou ao PL (Partido Liberal), nesta terça-feira (30), em cerimônia em Brasília. A filiação consolida a aliança do chefe do Executivo com o Centrão, espectro político conhecido por se aliar ao poder, para as eleições de 2022. O governojá estava aliado com as legendas de centro, sendo hoje sua base no Congresso Nacional. O vínculo com a sigla também antecipa a disputa política do próximo ano, quando Bolsonaro tentará a reeleição.

 

“Seja bem-vindo ao PL. Seja bem-vindo a 2022”, disse o presidente do PL, Valdemar Costa Neto em discurso. Ele já foi condenado no escândalo do mensalão. Antes de falar, Bolsonaro pediu que o deputado federal Marcos Feliciano (PL-SP) fizesse uma oração. Em seguida, o mandatário discursou ressaltando que o evento marca uma passagem para que possa pleitear algo na frente, e ressaltou a importância das outras legendas de centro.

 

Críticas ao STF

 

“Aqui presente tem outras pessoas que são excepcionais e marcaram a nossa vida. Eu vim do PP e confesso, a decisão não foi fácil. Até mesmo Marcos Pereira (deputado federal de SP, presidente nacional do Republicanos), conversei muito com ele, e uma filiação é como um casamento. Não seremos marido e mulher (disse, olhando para Valdemar Costa Neto), seremos uma família. Mas vocês todos fazem parte dessa nossa família”, afirmou, referindo-se às outras legendas.

 

Bolsonaro pontuou que o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, liderança do PP (Partido Progressista), quis levá-lo para a sigla, onde já ficou por 10 anos. Ao deixar o PP, que também integra o Centrão, e depois se candidatar à Presidência, em 2018, adotou o discurso de crítica ao bloco.

 

“Ninguém faz nada sozinho, tudo pode acontecer. O futuro a Deus pertence”, disse. Com um tom muito político, de olho na disputa de 2022, Bolsonaro agradeceu a confiança de Costa Neto, falou em alianças e composição. O presidente ainda citou vários nomes de aliados e onde eles podem disputar o pleito de 2022, como o do ministro da Cidadania, João Roma, para o governo da Bahia, e do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, para São Paulo.

 

Bolsonaro não fez críticas diretas a opositores, mas falou que seu governo conseguiu tirar “o Brasil da esquerda”. “O futuro do Brasil está em nossas mãos. Tiramos o Brasil da esquerda. Olhem para onde nós estávamos indo”, afirmou. Já o senador Flávio Bolsonaro (RJ), um dos seus filhos, fez um discurso mais eleitoral, com críticas diretas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e ao ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro, que vai disputar a presidência pelo Podemos.

Jair Bolsonaro na cerimônia de filiação ao PL ao lado de Valdemar Costa Neto
Jair Bolsonaro na cerimônia de filiação ao PL ao lado de Valdemar Costa Neto (Foto: Reprodução)
Outras filiações

 

O evento desta terça-feira marcou o ato de filiação de outros aliados políticos do presidente da República. Um deles foi o senador Flávio Bolsonaro. O ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, também assinou ficha de vínculo com o partido. Ao R7, ele afirmou que “a filiação é para fortalecer o projeto do presidente”. “Estamos acompanhando a sua posição e à disposição para, eventualmente, sermos candidatos em nossos estados”, disse o ministro, que deve pleitear cargo pelo Rio Grande do Norte.

 

O ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, que também esteve no evento, afirmou que não deve se filiar ao PL ao menos nesta terça-feira. “Não. Hoje, não”, disse o ministro ao ser questionado pelo R7 se também ingressaria na sigla, a exemplo de Bolsonaro, sem dar detalhes sobre uma possível filiação ao partido em outra data.

 

A filiação do presidente inicia articulação em torno também dos seus ministros. O senador Wellington Fagundes (PL-MT) afirmou que o partido pretende filiar ao menos cinco chefes de pastas do governo Bolsonaro. Ele se referiu aos ministros Onyx (Trabalho e Previdência), Tarcísio Freitas (Infraestrutura), Marcelo Queiroga (Saúde), Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) e Gilson Machado (Turismo).

 

Onyx confirmou que vai se filiar à sigla e que será candidato ao governo do estado do Rio Grande do Sul. “Está decidido”, disse. Tarcísio é uma das apostas do presidente para concorrer ao governo do estado de São Paulo. A candidatura ao Palácio dos Bandeirantes foi um dos pontos de negociação para a filiação de Bolsonaro ao PL.

 

Líder do PL na Câmara, Wellington Roberto (PB) disse acreditar que com a ida do presidente ao partido, deve aumentar o número de parlamentares da bancada em mais 20 ou 30.

 

O ministro Onyx Lorenzoni e o presidente Bolsonaro, que devem disputar eleições de 2022 pelo PL
O ministro Onyx Lorenzoni e o presidente Bolsonaro, que devem disputar eleições de 2022 pelo PL (Foto: EVARISTO SÁ/AFP)

Cerimônia

 

A filiação do presidente foi prestigiada por ministros, deputados e ao menos dois governadores, Antonio Denarium, de Roraima, e Cláudio Castro, do Rio de Janeiro. A entrada da imprensa foi impedida no auditório, ficando limitada a uma antessala, onde estavam outros convidados ligados a autoridades, somando, no mínimo, 200 pessoas. O local não possui ventilação e tinha pessoas sem máscara de proteção, mesmo diante da ameaça da nova variante do coronavírus Ômicron, vinda do continente africano.

 

Pelo menos 14 ministros participaram do evento, dentre eles Paulo Guedes (Economia), Onyx Lorenzoni (Trabalho e Previdência), Marcos Pontes (Ciência, Tecnologia e Inovação), Marcelo Queiroga (Saúde) e Bento Albuquerque (Minas e Energia). A oficialização da filiação do presidente ao PL havia sido agendada incialmente para o dia 22, mas foi adiada após discordâncias sobre a atuação do partido nos estados.

 

No evento desta terça muitos presentes não usava máscara como proteção contra a Covid. Uma das exceções foi o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). Os seguranças do local barravam a entrada de álcool em gel no auditório onde ocorreu a solenidade.

 

Fonte: R7