QUATRO QUEIJOS: A GOROROBA
Vitor de Athayde Couto
– A gororoba? De que é feita a gororoba? – perguntou Loréu, o eterno bêbado.
– Ora, isso é segredo do master chef, mas todo mundo sabe, haha.
– Pois então conta, conta!
– Como eu disse, todo mundo conhece o segredo da gororoba. O chef mistura quatro “queijos”. Por exemplo: coalho, catupiry e muçarela.
– Ei, mas não são quatro? Você só falou três. Eu posso ser um bêbado eterno, mas não sou burro, não. Aqui, todo mundo me conhece. Desde que comecei a beber, a vida me ensinou uma grande lição.
– Que lição?
– Mais vale ser um bêbado conhecido do que um alcóolico anônimo!
– Haha.
– Agora, desembucha, bora, bora!
– Tá bom, tá bom. Então, o quarto “queijo” é um mingaurréi que o chef faz com manteiga, ops, desculpe, com margarina…
– Mas é margarina de qualidade!
– Pois é, numa terrina, ele mistura uma xícara de composto e outra da farinha mais barata, pode ser trigo, maizena, o que tiver. Pra impressionar, o chef salpica um farelim do “parmesão” ralado, do mais barato, mistura bem até dar aquele ponto especial de meleca, e chama o grude final de bechamel, haha.
– E que diabé composto?
– Composto é aquele arremedo de leite que se vende no supermercado. Como ele é barato, fica na parte mais baixa da gôndola de leite & laticínios.
– Na parte mais baixa? Por quê?
– Porque rico não se abaixa. Igual na gôndola dos vinhos, onde as garrafas dos vinhos mais caros ficam deitadas na mesma altura dos olhos dos clientes ricos. Já os pobres têm que se abaixar pra pegar as garrafas de vinho ordinário que não têm nem o direito de se deitar.
– E por que os três primeiros “queijos” não são queijos?
– Ora, é porque eles ainda não têm maturidade, haha.
– Hahaha!
– Então, misturar quatro queijos de verdade é como misturar quatro bons vinhos de cores e aromas diferentes. Você bebe quatro doses de bons vinhos, misturados no mesmo copo assim ó: um dedo de Chablis (branco), um dedo de Châteaunef-du-Pape (tinto), um de Côtes de Provence (rosé) e outro de Pinot Gris (cinzento). O resultado só pode ser um rabo-de-galo da cor de jumento…
– … com bouquet de mastruz e retrogosto de jiló, haha.
– Hahaha! Isso mesmo! O que tem de gente comendo pizza quatro queijos e bebendo quatro vinhos! E tome-lhe ketchup por cima dos queijos, hahaha!
– Pois é, para certas cabeças, a mistura é chique. E quem quiser agradar os caipiras americanos, é só chamar a gororoba de blend e aumentar o som do countrynejo. Lembrando que, depois de beber uma grade de cervejão, qualquer comida sabe a cabo de guarda-chuva.
– Sabiá?
– Não, sabiá é passarinho. Eu falei “sabe a”, que também significa “tem sabor de”. Vai já procurar um bom dicionário! Eu disse bom dicionário! Anda, passa!
(Próxima crônica: CONCURSO DE GOROROBAS EM LAS VEGAS)
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