Separata do Município de Parnaíba do livro O Piauhy no Centenário de sua Independência 1823 – 1923

(Parte II)

Praça da GraçaFoto da Praça da Matriz, atual Praça da Graça. Ao centro, o primeiro coreto deste logradouro construído em ferro fundido ladeado por jovens palmeiras imperiais. A imagem mostra o terreno aonde existia a Casa de Câmara da Vila de São João da Parnahiba, prédio demolido para dar lugar ao edifício dos Correios. Obs.: o belo pórtico de entrada da dita Casa de Câmara esculpido em Portugal sob pedra de Lioz, encontra-se no Museu do Piauí em Teresina, mas sem nenhuma referência.

RIOS – O grande rio do município é o Parnahyba, cuja descripção foi feita na parte geral, relativa ao Piauhy. Também vimos neste estudo sobre o nosso município que na altura de Bom Princípio eleva-se um contra-forte que divide as águas pelas três faces duma pyramide irregular truncada.

Pela face sul, correm os riachos denominados Riachão, Frecheiras, Cocal, Palmeira etc., que vão desaguar pelo lado direito do Pyrangy. Este nasce no logar Pirapóra, de onde descendo num salto de 15 metros passa em Fraqueza, recebe o riacho do Piauhy e surdindo do Boqueirão no lugar Algodões flue recebendo os afluentes acima, indo afinal entrar no Parnahyba a duas léguas da villa do Burity dos Lopes.

Do lado ocidental forma-se outra bacia – a do Portinho. Este rio nasce no logar Espirito Santo.

É ahi a sua concha de formação com vários riachos chamados Espirito santo, São João, Cadoz, Maruás, Braz, Capoeiras, vindo afinal surdir nos limites de Parnahyba com Amarração, recebendo as aguas fluviais da região das dunas e desaguando na parte da bahia da Amarração.

Pela face norte da pyramide correm vários riachos e rios.

Três bacias se formam ahi que se definem no entanto já no território da Amarração.

Uma, insignificante, com o rio de São Miguel, que vai desaguar no logar João Bento, do lado ocidental da bahia Barra Grande.

O rio Camurupim, que é o mesmo rio Campos, nasce no logar Caldeirão e, recebendo pelo lado esquerdo o Joazeiro, vai também desembocar na Barra Grande.

No mesmo lugar Caldeirão da Serra dos Macacos desce pelo outro lado, o rio das Ipueiras, que depois de receber o Canna Brava e o Salgado vai confluir no São João da Praia no logar Carneiro.

LAGOS – São insignificantes as bacias lacustres parnahybanas; meros depósitos de aguas pluviais que secam na estiada. Para nomear algumas, citaremos Riacho, Tapuio, Porcos e Jardim entre Amarração e Parnahyba.

ILHAS – No município o único rio capaz destas formações é o Parnahyba. De facto no braço de Amarração, formaram-se as ilhas do Ferreiro, Ghafariz, Bom Jesus, Costa e Meio. Nesta penúltima há uma saline a que se liga o importante salgado da Bella-Mina.

No braço das Canarias, além da Ilha Grande, existem na posse do Piauhy as ilhas do Estevão, Batatas, Morro e Trindade.

Ilhas marinhas não temos, devido a formação de nossa costa.

BATHYMETRIA – Nada há de scientifico sobre as costas piauhyenses. O estudo que Raymundo Lopes nos dá no Torrão Maranhense não é completo e os pequenos dados que publiquei sobre a bahia de Amarração e barras parnahybanas peccam pela minha falta de preparo especial sobre a matéria.

Estes dados são constituídos por observações passageiras, desarmadas e transitórias.

O planalto continental em nossa costa já é bem larga; quase dez milhas antes de alcançar a corrente equatorial.

Mas como é raso, medindo raramente 15 braças, está sempre varrido de ondas violentas de Nordeste, que contrabatendo a costa não deixam ao delta grande formação.

No entanto há na costa uma acurvatura que se pronuncia depois de Amarração, apoiando-se desde ella em um prolongamento dos arrecifes nordestinos, o qual aflora em pedra do Sal.

O fundo só em raros poços acusa vasa. Na sua maior parte é ele de areia ou de piçarra.

Também são raros os bancos cretáceos, os depósitos animais marinhos, havendo absoluta falta de coraes.

No fundo do nosso mar aparecem esponjas e zoophytos de forma variada.

No recesso das bahias encontra-se depósitos de ostras e mariscos.

Todas as angras parnahybanas são formadas em curvas como resultante da corrente fluvial S. N. e da corrente eólia E.O., dando as nossas bahias fundo ao S. e barra L.

As bahias do município de Parnahyba são Amarração e Canárias, ambas servidas de pharões e ambas fechadas por bancos que nas marés de lunação dão passagem a navios calando 15 pés. As nossas marés sobem até três metros, caminhando a onda para N.O.

A temperatura media do nosso mar é de 24° na superfície.

CLIMA – Secco e ventoso no estio, quente e húmido no inverno.

No inverno cahem o terrol e os alísios; no verão é permanente o Nordeste; os quaes, todos, por sua orientação e a das nossas bahias e costas, obrigam ao uso das velas de espicha e traquete, únicos capazes de encher um só bordo.

O aspecto terrestre da costa piauhyense é o mesmo de toda a região dos Lenções.

Baixa, arenosa, coberta de dunas e apenas vasada pelas barras dos rios que ahi desaguam, ella toma na sua horizontalidade e nudez um aspecto incarecteristico.

Os mangues e outros vegetaes aparecem no recesso das bahias ou muito afastado das praias que a onda varre constantemente. A não ser o arrecife da Pedra do Sal, nenhuma elevação de terreno ou montanha quebra a sua uniformidade.

FLORA E FAUNA – A flora de Parnahyba difere em grande parte da do resto do Estado; porque só na bacia do Pirangy se caracteriza como chapada ou caatinga.

Os outros pontos do município têm uma vegetação intermedia à deste e à da costa marinha. Muitas espécies de vegetaes são comuns, tomando, contudo caracteres especiaes.

Assim, encontramos entre as medicinaes: quina, jalapa, batata, jaborandy, rhuibarbo, ipeca, carahyba, velame, congonha, ou malte, mutamba, umarizeira, padaré, jarrinha, salsa, manacá, jatahy, mamoninha, rícino (cultura), e batata-perdiz.

Nos baixios pluviais temos as fructiferas jussara, burity gitó, gangirú; e os cedros do alagado, olandy, creoly, o arroz, e a canna (culturas); enquanto nos baixios marinhos se encontram as três espécies de mangue, as aningas, pacáras, calubis, etc.

Na região da costa, além da carnahubeira, que é comum a todos os pontos do município, vemos o cajueiro, os mandacarus, umburanas e inúmeros arbustos, gramíneas e leguminosas (sete sangria, salsa de praia, oró, barba de bode) de que se nutrem os rebanhos.

A pesca na nossa costa, feita em tarrafa, anzol e curraes, demonstra a riqueza ichtyogena do nosso planalto continental.

As espécies mais comuns são a pescada (da espécie do bacalháo), vermelho, sardinhão, charel, serra, cavalla, arenque, enxova, camurupim, arraia, sardinha, tainha, bagre, saúna, coró, além de inúmeros pequenos e outros desaproveitados, como o tubarão, o boto e o espardarte. a fauna terrestre e a fluvial são comuns aos outros municípios. A pecuária é a mesma e os gêneros de cultura agraria também são os mesmos dos outros municípios: canna, arroz, feijão, milho, mandioca, gergelim, aipim, batata, mamona, algodão e fumo.

A diversidade da agricultura, aqui se cifra, quanto à margem do Parnahyba, no aproveitamento das marés, para irrigação do plantio nos logares baixos, denominados vazantes, aproveitando na estação estival somente porque de inverno estes terrenos ficam sob a agua do rio cheio, em conjucção com as marés. 

(continua na Parte III)