No último dia 20 compareci a Sessão Solene em homenagem aos 100 anos de vida do ex-presidente da OAB/PI, Celso Barros Coelho. Antes, porém, busquei reler o livro Política-Tempo e Memória de sua autoria, lançado em 2015, para relembrar, e me inteirar ainda mais, sobre a vida desse ilustre advogado, que aprendi a admirar desde o início da minha carreira.
O livro foi oferecido por Celso Barros a seus netos e bisnetos, “na esperança de que, na sua leitura, assimilem as lições de amor ao trabalho e realizem a vitória de seus sonhos”.
Realmente, são inúmeras as lições e aqui destaco uma, transmitida por Celso Barros no dia 01/02/1963, por ocasião do seu discurso de posse na Assembleia Legislativa Estadual, e destinada a todos aqueles que pretendem concretizar os seus sonhos: “Inspire-se o amor de Deus e a confiança nos homens de boa vontade para que a nossa missão não se afaste do reto caminho do nosso dever”.
De fato, Celso Barros nunca se afastou do caminho da retidão e “jamais se amesquinhou. Jamais se desviou da luta que se traçou para a grande caminhada da sua vida”, como bem ressaltou o prefaciador, Jesus Elias Tajra.
Nascido de uma família pobre, com 12 anos de idade Celso Barros era o mais velho de sete irmãos, quando perdeu o pai. Diante das dificuldades financeiras, passou “a viver na companhia de sua tia, Maria Rocha Leal, como ajudante do estabelecimento comercial”. Porém, não tinha aptidão para o comércio, pois “só queria viver lendo”.
Naquela época o jornal O COMBATE trazia como lema um trecho da Canção de Tamoio, de Gonçalves Dias, e Celso Barros fez desse pensamento o motivo de sua “luta pelas conquistas realizadas ao longo do tempo”: “A vida é combate,/ que os fracos abate,/ que os fortes, os bravos/ só pode exaltar”.
Ainda na juventude, encontrou no clássico livro O PODER DA VONTADE, de O. S. Marden, outro estímulo, que o ajudou a abrir novos horizontes.
Obstinado, agarrou de pronto, a oportunidade de estudar no seminário, em Teresina, após ganhar uma bolsa. “Não pensava em ser padre”, seu sonho era estudar, e o curso de humanidade deu-lhe uma base sólida para a aquisição de outros graus de conhecimento, assim como o estudo do latim e português foram fundamentais para a sua formação intelectual.
Foi professor no próprio seminário e em diversos colégios de Teresina, lecionando português, francês, grego e latim. Também foi professor, concursado, de Direito Civil na Faculdade de Direito, incorporada posteriormente à UFPI.
Sua formação haurida no Seminário o conduziu a olhar para a política como “uma missão pela conquista da liberdade, da justiça e da igualdade social”, portanto, “via na democracia cristã, inspirada nos valores éticos e humanos, o cumprimento dessa missão”. Por isso, renunciou ao cargo de Fiscal do Consumo, o mais bem pago do Brasil, no âmbito do Ministério da Fazenda, para continuar como Deputado Estadual, mesmo com prejuízos financeiros. Mas, em pouco tempo, teve seu mandato injustamente cassado pelo regime militar de 1964.
Exerceu o mandato de Deputado Federal em duas legislaturas, tendo sido relator do Livro V – Direito das Sucessões do Código Civil Brasileiro e da Lei de Execuções Penais, além de ser autor de diversos projetos, dentre eles um dos que tratava da Lei de regulamentação do Divórcio e outro que tratava da Lei do Inquilinato.
Além de Fiscal do Consumo e professor da Faculdade de Direito, foi aprovado em diversos outros concursos públicos, dentre os quais o de Oficial Administrativo, Fiscal da Alfândega, na esfera federal e Fiscal do IAPC. Também obteve aprovação para os concursos de Juiz de Direito e Promotor Público, mas não aceitou as nomeações.
Sempre preocupado em servir e lutar pela classe a que pertencia, Celso Barros exerceu a presidência da Associação Profissional de Professores, participou do movimento de política estudantil na Faculdade de Direito, foi presidente da OAB, Seção Piauí, presidente da Academia Piauiense de Letras, assim como fundou e presidiu a Academia de Letras, História e Ecologia da região Integrada de Pastos Bons, sua terra natal.
Na solenidade de comemoração de seus 100 anos, Celso Barros continuou a transmitir lições de vida, tanto pelo conteúdo do discurso por ele redigido, quanto por seu comportamento democrático e acessível, a todos atendendo com cordialidade, assim como pelo tratamento que dispensou a seus filhos, netos e bisnetos, sempre beijando a mão de cada um deles, abençoando-os, o que pra mim se caracterizou no gesto mais marcante de sua festa. Certamente que suas lições serão assimiladas.
Sei que nunca haverá um texto que seja suficiente para expressar toda a grandeza de Celso Barros, porque ficará sempre algo por dizer, tamanha é a sua biografia, recheada de incontáveis lições. Mas, ao escrever este modesto artigo, busco apenas expressar o meu reconhecimento e preito de gratidão a esta figura icônica do Direito, admirável sob todos os aspectos. Se me permitem dar um conselho aos novos advogados e advogadas, digo para que sigam o exemplo de Celso Barros, leiam os seus livros, inspirem-se na sua trajetória de vida e não deixem de reverenciá-lo como um dos maiores juristas do Brasil.
Viva Celso Barros!