O CULTO OCULTO

 

Vitor de Athayde Couto

 

Não, não me refiro a culto no sentido de cultura ou conhecimento. Antes fosse. Falo apenas do que vejo pelo Brasil invisível. Vejo cultos nos templos de falsos pastores e falsas pastoras. Vejo cultos invisíveis, vejo cultos ocultos sobre a cama dos motéis (assista aqui, mas não esqueça de tirar as crianças da sala).

 

Vejo também cultos incultos pelas esquinas, postes e banheiros químicos dos xômícios em plena campanha eleitoral fora de época. Vejo cultos incultos nos ônibus escolares, embaixo das escadas, e até no elevador do Ministério da Educação. Sim, aquele elevador escondido lá no fundo do saguão, reservado às autoridades que desembarcam daqueles carrões pretos e acedem apressadamente ao prédio por entradas exclusivas – e às escondidas, sempre que necessário.

 

Na recepção do ministério, o povo-plateia pratica o conhecido esporte cara-crachá, cara-crachá, cara-crachá.

 

Enquanto os fiéis aguardam a volta de Dom Sebastião, o Imbroxável, mãe Zefa dita a receita de uma infusão desimbroxante. Na verdade, é só um chá-tiro-e-queda, feito com água de alevante e aparas de cabelo rastafari-bicho-grilo.

 

Ainda nem tinha surtido efeito, a galera já espalhou na bolha que a estrovenga faiô e não bateu continência. Por quê? Ora, porque devia ser tiro-e-levanta, e não tiro-e-queda. Resultado, o Imbroxável broxou.

 

Uma leitora já me adiantou que isso não funciona assim. Quem é imbroxável nunca alardeia, até porque galo que canta muito tá é botando ovo.

 

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Escute o texto com a narração do próprio autor: