A VINGANÇA DAS ÁRVORES
Vitor de Athayde Couto
CARRO SOBE ESCADA?
Depende, só pode ser jipe.
EU, TU, ELES
Eu rio, tu minas, ela para e ama, pá. Enquanto isso, ele só ama zonas.
GUARÁ PRETO
– Pra quem pensa que só existe guará vermelho, quem nasce em Garanhuns é
o quê?
– Garanhão.
– Ah, então tá muito bem explicado.
BOA NOITE
Beijou a boca da noite e foi dormir ouvindo as estrelas que se alojaram na sua
cabeça.
ANSIEDADE
Durante a sua entrevista na mídia, a terapeuta disse que está esperando
ansiosamente pelo novo medicamento americano para tratar ansiedade.
O TEMPO
– Já viu o tempo passar?
– Não, eu sempre vou com ele. E você?
– Eu sempre faço plástica. Ele que vá sozinho.
CHÁ PARA DOIS
Ela esvaziou o maridão inflável, dobrou e guardou na bolsa. Depois foi tomar
chá com porradas no encontro semanal das amigas. Já era tarde da noite
quando elas encheram novamente os maridos. Braços dados, foram andando
pra casa. Nunca foram incomodadas por ninguém.
TOM MAIOR
Perguntaram ao professor:
– Por que você só fala com esse tom acadêmico?
O professor não hesitou e disse:
– Porque eu sou acadêmico e não me sinto honesto falando em outro tom.
– Então, professor. Tenho outra pergunta. Quais são as profissões do futuro?
– Você ainda não sabe? – surpreendeu-se o professor, e prosseguiu sem
manifestar nenhuma dificuldade: entregador de pizza, cuidador de idosos, e
minerador de criptomoedas.
JOÕEZINHOS E MARIAS
João das Botas era um gato. Joana, uma flor angelical. Cada um com sua
mania de coragem.
Quitéria e Felipa eram duas Marias. Cada uma com sua mania de liberdade.
Cada louco com sua Maria. Cada povo com sua Bahia.
A VINGANÇA DAS ÁRVORES
Eram cinco amigos da quarta geração de colonos. Depois que seus ancestrais
desmataram praticamente toda a vegetação nativa, as famílias, orgulhosas,
anunciaram ao mundo que o Sul é a região mais desenvolvida do Brasil. Não
tendo mais terras para produzir, os jovens amigos Schmitz, Schmidt, Schmit,
Schimiz e Mezzari foram desmatar a Mata Atlântica, os Cerrados, o Pantanal, a
Amazônia, e os Tabuleiros Litorâneos, para plantar soja, a serviço das firmas
globais que lideram o complexo agroindustrial das oleaginosas. Um dia chegou
a notícia de que seus pais haviam morrido, pois não resistiram à queda das
árvores sobre suas casas, durante a passagem de um ciclone anônimo.