AS CORES DA PELE
Vitor de Athayde Couto
Não precisa ser economista para identificar certos movimentos do capital. Com um pouco de sensibilidade, senso de observação e sabedoria, qualquer pessoa é capaz de perceber as mudanças. Basta fazer uma leitura da paisagem e pronto.
Quem não percebe que o capital global já se encontra presente em todas as parnasias do mundo? As grandes transformações não operam apenas no nosso quintal. Organizado em redes, o capital global revela-se aos nossos olhos como se fossem várias Coca-colas. Assim são as redes de fast-food, de hotéis, academias, parques de diversões, escolas, supermercados, hospitais, laboratórios… e até de farmácias!
Uma leitora que mora em Cruz das Almas (a sua parnasia) referiu-se ao conhecido Beco das Farmácias que existe por lá. Trata-se de uma verdadeira materialização da mergermania (leia aqui a crônica “Não é lindo?”, publicada no dia 14/10/2022). Com um grande senso crítico, ela relatou uma velha piada de cunho racista (ou de injúria racial, não importa, tudo vem do mesmo esgoto) que circulava no beco. Por ser do esgoto, a piada nem deve ser reproduzida aqui.
Enquanto a pequena burguesia, com seus pequenos capitais vomitam preconceitos, os grandes capitais são mais inteligentes. E é por isso que são grandes. Por exemplo, as firmas globais dos maiores laboratórios do mundo sempre encontram um jeito de ganhar mais dinheiro. Pesquisam, inovam, arriscam-se, produzem e vendem bandagens e esparadrapos de todas as cores, isto é, as cores das peles humanas que compõem o mercado. Assim, vendem mais e lucram muito mais. O mesmo se dá no setor de produtos de beleza e maquiagens étnicas onde o faturamento cresce mais do que a média dos pibes mundiais.
Outro leitor, de Brasília, estuda o mercado de trabalho. Ele lembra que os antigos celetistas que conseguem permanecer são absorvidos pelas grandes redes e ganham um novo apelido. De “colaboradores” passam a ser chamados de “empreendedores”. Só então a “nova classe” descobre que capitalismo é uma coisa e empreendedorismo é outra. Mesmo assim, todos continuam felizes e acreditando que são “empresários” só porque foram pejotizados. Pelo menos o sonho continua sendo grátis.
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Ouça o texto com a narração do próprio autor: