O Piaguí (impresso mensal) alcança sua 60ª edição, trazendo, dentre seus inúmeros textos culturais, um lamento do escritor Daniel C. B. Ciarlini, sobre certos aspectos do Salipa (Salão do Livro de Parnaíba), ao mesmo tempo em que aponta algumas sugestões para melhoria do evento, confira:
“Parnaíba tem de perder a mania doentia de só fazer homenagens àqueles que já morreram. É chegado o momento de mudarmos um pouco essa ideologia poeirenta do século XIX. Estamos terminando de completar 12 anos do século XXI e o que surgiu de novo? Nada. E não por falta de opção, mas porque não deixamos que surgisse. O Salão do Livro de Parnaíba, por exemplo, com a sua quarta edição prestes a acontecer no próximo mês, deveria ser reformulado em dois pontos fundamentais para o seu melhoramento. O primeiro é atentar para os autores que foram e estarão sendo homenageados.
Todas as três edições do Salipa evidenciaram autores defuntos de tempos distintos: Ovídio Saraiva, Humberto de Campos e Renato Castelo Branco. Por que não homenagearmos agora os vivos? Mesclemos as homenagens da seguinte maneira: um ano para um morto e outro para um vivo, sem dúvida alguma o evento ficaria mais atrativo e original.
Agindo assim fortaleceríamos tanto a nossa memória como respeitaríamos a produção da atualidade, numa prova de que Parnaíba ainda é um celeiro de cultura e não só vive de passado. Podíamos fazer um ano dedicado a Assis Brasil, ou quem sabe ainda a Renato Bacellar. Com urgência o segundo, e com as seguintes razões: embora Assis Brasil seja autor de mais de 120 livros e tenha projeção nacional, desconhecemos um parnaibano como Renato que seja escritor tanto na hora em que escreve como quando fala. E ademais, Assis Brasil já foi muito homenageado, desde o início de sua carreira quando ganhou concursos Brasil afora aos tempos atuais, como o que houve recentemente no SESC Ilhotas, em Teresina, que denominou sua biblioteca com o nome do escritor. Em Parnaíba, para se ter uma ideia já demos o nome de Assis Brasil a uma fundação e a um colégio. Não é por falta de homenagem ou merecimento que o nosso maior literato da atualidade não seria lembrado no Piauí ou em Parnaíba.
Poderíamos nos exceder aqui com alguns nomes de escritores parnaibanos vivos que mereceriam homenagem nos anos seguintes, mas para não deixarmos alguns de fora optamos, pois, em não listá-los, ficando o critério de escolha de acordo com a ideia seguinte:
O segundo ponto que tornaria melhor o desempenho do Salipa seria a divulgação antecipada do autor a ser homenageado, diferentemente do que ocorre hoje, onde só se tem notícia dias antes. O anúncio antecipado, que poderia inclusive ser sorteado ou votado no último dia de cada Salipa em Assembléia aberta a todos os visitantes, poderia incentivar a produção de pesquisas durante todo o ano para serem divulgadas no Salão do Livro seguinte, bem como facilitaria o interesse das editoras em reeditarem as obras dos autores homenageados, tornando assim o evento ainda mais completo. Isso mudaria um pouco a cara do Salipa e iria desfazer o mal estar de não encontrarmos um livro sequer do autor do ano nas prateleiras, como ocorreu nos anos de Ovídio Saraiva, Humberto de Campos e Renato Castelo Branco.
Os benefícios da antecipação dos nomes dariam suporte, inclusive, para que a própria prefeitura organizasse um concurso de ensaios a respeito do autor que seria tema do Salão, levando-se posteriormente a lume os trabalhos vencedores em forma de livro, lançado na abertura do evento.
Findamos este editorial desejando que os organizadores do Salipa pensem nas dicas que deixamos aqui expostas, calculando consequentemente os ganhos e o impacto cultural que elas poderiam acarretar no engrandecimento do Salão do Livro, injetando ainda mais ânimo e incentivo aos escritores, pesquisadores e leitores que compõem a atual seleta literária da cidade.”
Daniel C. B. Ciarlini
Parnaíba, 24 de setembro de 2012 (para o editorial de O Piaguí 60, de outubro de 2012)
Abaixo: Componentes do Jornal O Piaguí em 2009 – Primeiro Salipa.