Em 1923, no centenário da adesão da província do Piauhy à Independência do Brasil, o governo estadual editou o importante livro O Piauhy no Centenário de sua Independência 1823 – 1923. O texto não trata do processo de liberdade no estado, mas traz um retrato sócio-econômico-geográfico das cidades de então. Separamos em três partes o trecho referente à cidade da Parnaíba, escrito pelo competente José Pires de Lima Rebelo. Em destaque a retaliação da área municipal de Parnaíba e a usurpação cearense.

 

Folha de rosto do livro O Piauhy no Centenário de sua Independência 1823 – 1923. Exemplar da Biblioteca do Arquivo Público do Estado do Piauí
Folha de rosto do livro O Piauhy no Centenário de sua Independência 1823 – 1923. Exemplar da Biblioteca do Arquivo Público do Estado do Piauí

Parte I

Parnahyba

 

LIMITES – Não podemos alcançar dados sobre a posição astronômica do município de Parnahyba em todos os pontos principaes da sua periferia.

As últimas medidas tomadas pela Commissão referem-se somente a alguns dos seus pontos accidentaes e estes valores ainda estão sujeitos á revisão de cálculos. Com esta ressalva, o major Renato Pereira, nos forneceu os seguintes:

Barra das Canárias: (Vertice 143 da triangulação, no ponto da margem esquerda):

Lat. Austral – 2° 43’ 55” 2

Long. E do Novo    )

Obsev. Do Rio        )     0h 05m 35s 18

 

Barra de Amarração (vértice na Atalaia):

Lat. Austral – 2° 52’ 22” 7

Long E do Novo     )

Observ. do Rio       )    0h 06m 16s 34

 

Cidade de Parnahyba (Pilar na Praça da Matriz):

Lat. Austral – 2° 54’ 10” 5

Long. E do Novo    )

Obsev. Do Rio        )    0h 5m 54s 31

 

Bocca do Igarassú (guindaste da Fabrica Cortez):

Lat. Austral – 2° 57’ 14”

Long. E do Novo   )

Observ. do Rio      )    0h 05m 41s 54

 

Foto da Praça da Matriz, hoje Praça da Graça. Ao centro, o terreno aonde está construído o prédio da agência da Caixa Econômica
Foto da Praça da Matriz, hoje Praça da Graça. Ao centro, o terreno aonde está construído o prédio da agência da Caixa Econômica

Dois outros dados existem de fácil redução. Verifica-se que os portos de Parnahyba e Timonha, segundo dados sucessivos tomados desde Meuchez, se acham no mesmo alinhamento á 2° 54’, latitude austral.

 

De Amarração á Parnahyba corre a Ilha Grande sobre este alinhamento, com o alcance occidental que póde ser visto nas medidas oferecidas acima (barra das Canárias e boca do Igarassú).

Os limites entre Amarração e Parnahyba, partindo do Portinho, sobem por esse rio até Olhos D’agua; e dahi, passando por Capoeiras, alcançam a serra de S. Rosa, cujos contraforte acompanham até a divisa com o Ceará.

Desde ponto para a barra da Timonha ficam distando oito léguas, ou sejam cerca de 26 minutos.

Assim, o município de Amarração é constituído por um triangulo deitado de L para O sobre a praia, que mede 12 leguas; o vértice na bahia de Amarração; a base, medindo oito léguas, da Timonha a S. Rosa; e o outro lado, irregular, formando a fronteira com  Parnahyba, sujeito àquella derivação de 26 minutos no sentido E S E e com uma extensão linear de mais de 16 leguas.

A O a fronteira de Parnahyba é o Rio Parnahyba. Por esse lado o município, depois da Ilha Grande, corre quase num alinhamento N S, na extensão total de quatro léguas, como se verificou por ocasião da demarcação do patrimônio da cidade; e o seu ponto extremo é a Barra do Rebentão.

Dahi, limitando-se com o Burity dos Lopes, linda-se por uma linha recta que partindo desse riacho do Rebentão passa pelo Cadoz, e deste por outra recta para Espirito Santo de Cima, sempre em rumo E S E. No logar Cocal começa a limitar-se com o município de Piracuruca, de conformidade com as leis n° 548, de 1864, n° 574, de 1863, n° 894, de 1875, lei de 13 de Junho de 1877 e 205, de 1894, única que subsistiu até hoje.

Ficam do lado de Piracuruca as fazendas Deserto e Algodões.

Afinal, do lado do nascente corre a fronteira com o Ceará.

Esta tem sido incerta e variável, á medida que vai crescendo a usurpação cearense.

Não discutiremos esta usurpação sob o ponto de vista histórico, que daria margem a longo arrazoado. Ella se prende mais diretamente ao município de Amarração e á questão da Timonha.

Regulada esta questão e partindo a linha limítrofe pelo Chaval e seu contraforte para a Serra Grande, enorme tracto de terra piauhyense seria reivindicada para Parnahyba. Basta citar o grande valle da Ubatuba e o boqueirão da Palmeira, cujas aguas correm para a Barra da Timonha.

Mesmo com o divortium aquarium limitado ao rio Parnahyba, grande extensão de terra piauhyense está sob a dominação cearense.

Partindo da Serra Santa Rita, visando o pico da Serra do Cocal e passando pela baixada intermedi chamada Varzea do Fogo, as aguas se dividem correndo para o Parnahyba desde os lugares Olho D’agua Grande, Coité, Campo Comprido, Pedra de Cintura, Campestre, Palmeira, Volta, Passagem, Alto da Taboca, brejo Grande e Belem.

Da Pedra de Cintura a Belem se forma um boqueirão por onde correm o Riacho do Piauhy e o Rio Portinho, o qual ao sahir em Algodões já surge potente e caudaloso.

No entanto até Algodões os cearenses se acham apossados a despeito da constante oposição dos parnahybanos.

 

ASPECTO GEOLOGICO E PHYSICO – Do acima exposto se vê que o território de Parnahyba é constituído por um parallelogrammo inclinado dos contraforte da Ibiapaba ao mar, medindo 20 leguas nos lados principaes e seis nos lados menores; ou seja uma superfície aproximada de 4000 kilometros quadrados.

A Serra Grande forma a fronteira com o Ceará e, depois de Viçosa, abre em vários arcos: um chamado Serra da Ubatuba corre onde hoje está de posse o ceará; os outros esgalham do feixe Norte para o Poente, formando os nomes de Serras de Santa Rosa e Santa Rita, e, em zigue-zague, de L para SO um contraforte que vem tomando os nomes sucessivos de Serras dos Arcos, Chumbo, Cocal, Frecheiras, Palmeira, etc, todas de pequeno relevo; e formando nos colos do zigue-zague, successivos boqueirões com olhos d’agua em Algodões, Boriba, Angico Branco, Camatá, Frecheiras, Caldeirão, Matta Fria, Olhos D’Agua e Careta, onde termina a serra.

De Algodões até Frecheiras, o Pirangy a vem acompanhando pelo lado sul e forma assim a sua bacia, que na altura de Espirito Santo se inclina para Burity dos Lopes. Dahi em rumo do Rebentão corre uma serie de escalões ou chapada fragmentada de onde para o NO descem o rio Portinho e riachos afluentes.

O mesmo se dá ao N da serrania acima nomeada, formando-se, com a divisão dos quaes, novas bacias independentes numa serie de riachos que vão desaguar e formar o rio Camurupim e o São João, como explicaremos adiante.

Em geral é plano o terreno do município com franca porcentagem de argila e predomínio de areia avermelhada granulosa.

A formação geológica participa daquela encontrada por Branner para o N do Brasil: são massiços formados por stractos horizontaes de grez ferruginoso assente em rochas porphyricas e granuliticos. Estes stractos vão sendo cada vez menos densos de Goyaz para o mar; de modo que do Poty para ele se encontra uma manta de sílica decomposta recobrindo verdadeiros degrãos de uma escada cada vez mais fraca. Por essa conformação e natureza não guardam agua no subsolo, sendo em franca porcentagem.

Segundo o citado Branner, a orla piauhyense que abrange Parnahyba foi parte de uma ilha archeana; e as rochas que vêm até ella são de formação cretácea, como se pode ver do fóssil que se apresenta na amostra n° 4, que remeto à Exposição (classificação do Dr. Becanser da Polythechnica).

Entre as rochas encontradas no município podemos citar o granito anfibolico de Marruás, que num banco na direcção de S Miguel alcança a Serra Grande (amostra    n° 8); afloramentos de calcareo sacaroide com grande porcentagem de alumínio, donde provem uma cal muito gorda (amostra n° 5) e outros com manganês (n° 1); depósitos de marges no Carpina e Portinho (amostra n° 7 ); quartzitos de talho recio (n° 14), optimo para construção (amostra n° 11), talco olar (amostra n° 3); além dos conglomerados e pudins ferro-silicosos, hematiles (n° 2), pirites (n° 12) mármores (n/ 10) etc.

A altitude máxima urbana é de 28 metros acima do mar e no resto do município é de 600 metros, na fronteira com o Ceará junto a Viçosa.

(continua na Parte II)